terça-feira, 16 de abril de 2013

Encarnação - José de Alencar












Encarnação, de José de Alencar

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Encarnação, escrito em 1877, só foi publicado em livro postumamente. Em vida de Alencar foi divulgado em folhetins: há dúvida quanto ao jornal em que apareceu. Último romance de José de Alencar, Encarnação foi escrito aos 47 anos de idade, meses antes do falecimento do autor.

Cenário: Duas residências vizinhas, padrão elevado, localizadas em chácaras de São Clemente Clemente - RJ. Uma ocupada por três pessoas (pai, mãe e filha) e a outra por duas pessoas (patrão, viúvo há 5 anos, e o criado).

Personagens (casa da direita):

Amália - loura, bonita, 18 anos, querida dos pais, toca piano, canta, gosta de festas. Cortejada pelos melhores moços que não leva a sério. “Amália não nutria prejuízos contra o casamento, que alias aceitava como uma solução natural para o outono da mulher. Ela bem sabia que depois de haver gozado da mocidade, no fim de sua esplêndida primavera , teria de pagar o tributo à sociedade, como as outras escolher um marido, fazer-se dona de casa, e rever nos filhos a sua beleza desvanecida.

Sr. Veiga -  pai de Amália, marido e pai extremoso, cuidadoso na seleção dos pretendentes da filha. Sente quando a filha recusa um bom partido.

D. Felícia - esposa do Sr. Veiga, mãe de Amália, casamento feliz.

Personagens (casa da esquerda):

Carlos Hermano de Aguiar - 30 anos, muitos bens, pessoa reservada, mantêm portas da frente sempre fechadas, vai á cidade poucas vezes, a excentricidade atrai a bisbilhotice e maledicência . Cultua a memória da esposa com quem foi muito feliz. “Do que poucos sabiam, e só alguns amigos se lembravam, era da primeira mocidade de Hermano, quando ele passava por um dos mais brilhantes cavalheiros dos salões fluminenses. Sua graça natural, o primor de suas maneiras, e as seduções do seu espírito, o distinguiam entre todos como um tipo de elegância.

Julieta -  esposa falecida de Hermano, filha de coronel reformado, morena alva, cabelos negros, muito atraente, freqüentava pouco a sociedade. Um aborto a levou. Enquanto viveu, foi um mar de felicidade. Apaixonada pelo marido com quem fez pacto de amor eterno. “O casamento é uma fatalidade. Meu marido há de pertencer-me de corpo e alma. Para sempre e eternamente.

Abreu - pai de criação de Julieta, recebeu-a em seus braços ao nascer e contava só deixá-la quando morresse. Homem de confiança de Hermano, após a morte de Julieta, ajuda o patrão a manter viva a sua memória.

Dr. Henrique Teixeira - médico oftalmologista recém chegado da Europa, amigo de infância de Hermano, leva-o para Paris como forma de ajudá-lo a esquecer.

Enredo

Hermano, muito bem situado socialmente, casa-se com Julieta, de projeção social menor, filha de coronel aposentado, muito atraente, e vão viver na chácara de São Clemente uma vida plena de felicidade e que só terminará com a morte da esposa durante um aborto.

Abreu, o criado, sempre muito bem vestido com trajes escuros, atende bem as poucas visitas que lá comparecem para tratar de negócios. Pai de criação de Julieta, após sua morte, torna-se homem de confiança e ajuda o patrão a manter viva a memória da esposa.

O Dr. Henrique Teixeira, recém-chegado da Europa e amigo de infância de Hermano, leva-o para Paris, tentando ajudá-lo, mas sem sucesso. Ele retorna para sua chácara.

Cumprindo algum pacto de amor eterno, Hermano encomenda estátuas da esposa, que chegam em sua casa embalada em grandes caixas fechadas que motivam muitos mexericos na região.

Amália, desde os nove anos bisbilhotando a vida do casal, agora com 18 anos vê chegarem aquelas caixas e depois vê  silhuetas de mulher na casa. Supõe uma traição de Hermano à memória da esposa e se decepciona.

O Sr. Veiga busca uma aproximação com o jovem médico para saber mais da vida do vizinho, um bom partido, e do seu equilíbrio emocional.

Amália aproveita, também, para saber mais do vizinho e o pai supõe um namoro da filha com o médico.

O tempo passa, Amália começa a sentir atração por Hermano e procura chamar sua atenção usando todos os seus dotes e, principalmente, a sua bela voz que era, também, um dom de Julieta muito admirado pelo marido.

Hermano é tocado e se aproxima de Amália usando o, agora amigo comum, Dr. Teixeira.

Os dois se conhecem em uma festa e se entendem. A casa de Hermano é reformada e decorada para receber a noiva.

Os aposentos da ex-esposa, porém, são conservados intactos e sempre fechados, por determinação de Hermano.

O casamento acontece e é marcado pelos mal-entendidos e dúvidas levantadas, há tempos, por Amália, o que impede a sua realização de fato.

O casamento de fato só acontecerá quando Amália, desobedecendo ordem de Hermano, pega a chave dos aposentos de Julieta e, então, tudo se esclarece. A história termina com o nascimento de uma menina muito bonita e que completa a felicidade do casal.

A menina apresenta traços de Amália e, também, traços da ex-esposa, Julieta, que não seriam geneticamente explicáveis.

Talvez, um lado místico de José de Alencar sugerindo alguma manifestação do sobrenatural. Alguma forma de espiritualismo
 As personagens femininas de Alencar propõem-se, inicialmente, como retratos emoldurados pela marca da firmeza, da inteligência e do espírito crítico. À medida que a narrativa se desenvolve revelam-se como duplos da personagem masculina e confirmação do seu desejo. 
A personagem feminina, criada no registro masculino, não coincide com a mulher real do cotidiano. No espaço da ficção, nasce a heroína literária romântica sempre pronta a ser o desejo do seu herói. No texto, surge uma miragem de mulher, tornando-se um modelo a seguir. 
Encarnação é o elogio da submissão.No início do romance, Amália é aquela que zomba do amor romântico, do homem ideal ? Fênix dos maridos. Entretanto, ela mesma torna-se a Fênix de um desejo alucinado. Quando Hermano fica viúvo, ela procura a todo custo conquistar o seu amor. Bem narcisista, ela vê em Hermano a possibilidade de realização de um sonho, de preenchimento do seu tédio, de esperança de plenitude. A diferença é que Amália morre enquanto Amália, mas Hermano permanece o mesmo. O processo de conquista implicará a transformação de Amália em Julieta, por meio de um jogo de gestos, penteados e hábitos da esposa morta, até que Hermano, confundindo as duas mulheres, acabará por apaixonar-se por Amália e realizar-se no imaginário desse amor de conjunção total. Com esse jogo, Amália perde sua identidade. Hermano se apaixona por um ideal. Amália pode ser considerada o protótipo da submissão a um modelo patriarcal, por legitimar o narcisismo de Hermano. Ideal masculino, submissa, por isso é heroína. 
No título Encarnação está implícita a atitude de Amália ao assumir a identidade de Julieta para conquistar o amor de Hermano. 
Os espaços principais no romance são: o cotidiano da vida cortesã no Rio de Janeiro, segunda metade do século XIX, casa do Sr. Veiga (pai de Amália), casa de Hermano (ao lado), quarto de Julieta (cristalização de um passado), casa em ruína (libertação da imagem de Julieta morta, da obsessão). 
O olhar sustenta a ficção. No romance, Amália cria sua ficção e faz dela a sua vida. A curiosidade e o olhar para as casas vizinhas estruturam o enredo e permitem o conhecimento e o contato entre os protagonistas. 
As manifestações lúdico-musicais (ópera, teatro, piano, canto, sarau) comparecem nos romances urbanos de Alencar como ingredientes da ?escolhida sociedade? da corte. Os eventos servem de aproximação e definição do par amoroso. O canto funciona como uma chave que abre a passagem entre o mundo da fantasia e o mundo da realidade, entre a mulher imaginada e a mulher com quem depara. Depois quebra a indiferença inicial entre Hermano e Amália. Esta percebe o sentido simbólico da ópera Lúcia de Lammermoor e a executa, com a intenção de atrair sua atenção. 
São, ainda características marcantes na obra: foco narrativo entre primeira e terceira pessoas, metalinguagem, linguagem rica e minuciosa, enredo perfeito, grande suspense Vale a pena conferir a incapacidade de lidar com o passado de Hermano e a curiosidade e compulsão de olhar da personagem Amália.


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