quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Urupês - Monteiro Lobato

Urupês, de Monteiro Lobato


Publicado em 1918, Urupês é basicamente uma série de 14 contos, tendo como ênfase a vida quotidiana e mundana do caboclo, através de seus costumes, crenças e tradições. Monteiro Lobato reuniu na obra alguns contos que a experiência de fazendeiro do Vale do Paraíba lhe proporcionou. É a obra de estréia de Monteiro Lobato.



Urupês não contém uma única história, mas vários contos e um artigo, quase todos passados na cidadezinha de Itaoca, no interior de SP, com várias histórias, geralmente de final trágico e algum elemento cômico. O último conto, Urupês, apresenta a figura de Jeca Tatu, o caboclo típico e preguiçoso, no seu comportamento típico. No mais, as histórias contam de pessoas típicas da região, suas venturas e desventuras, com seu linguajar e costumes.


Para uma melhor compreensão da temática da obra, o próprio escritor nos dá pistas ao citar, em um dos seus contos, Meu Conto de Maupassant. De fato, sua literatura vai pela mesma rota do literato francês, já que se baseia em ações extremas e patéticas norteadas pelo amor e pela morte.


O tom exagerado também se manifesta em sua linguagem. Além dos traços expressionistas (na descrição das personagens Lobato utiliza técnicas expressionistas que as deformam, quando se dedica a caracterizar a natureza passa a vazar metáforas de bela plasticidade que em vários pontos lembra a idealização romântica. Afasta-se, no entanto, dessa escola literária por utilizar uma linguagem mais simples, arejada, moderna) usados nas descrições das personagens, Lobato utiliza constantemente a ironia, o que revela uma emotividade extremamente carregada, fruto de um misto de indignação, impaciência e até intolerância ao enxergar os problemas brasileiros e como eles são provocados pela lassidão, fraqueza e indolência do caráter de nosso povo.


A linguagem lobateana ainda inspira alguns comentários interessantes. É fácil perceber como antecipa o Modernismo, já que não apresenta a elaboração rebuscada então vigente em sua época (Monteiro Lobato criticou ferozmente a moda parnasianista de elaboração preciosista e purista da linguagem. Suas idéias combativas aparecem até mesmo em trechos que podem ser entendidos como pequenas digressões dentro das narrativas de diversos contos deUrupês). Defensor de um estilo mais simples, prático, direto, sem elucubrações lingüísticas, chega até mesmo a aproveitar o andamento coloquial brasileiro dentro de sua narrativa, o que o torna embrião de feitos vistos em obras importantíssimas do Primeiro Tempo Modernista, como MacunaímaMemórias Sentimentais de João MiramarBrás, Bexiga e Barra Funda eLibertinagem. É só notar expressões como “Filho homem só tinha o José Benedito, d’apelido Pernambi, um passarico desta alturinha” ou “E a prova foi roncarem logo p’r’ali como dois gambás”, dois exemplos tirados a esmo do conto A Vingança da Peroba.


Outro aspecto moderno é a construção de uma metaforização nova, em certos aspectos inusitada, se comparada ao padrão parnasianista então em moda, mas mais comum no movimento que surgiria praticamente meia década depois desse livro de Lobato.


Enredo


Os Faroleiros – O narrador, em meio a um bate-papo, propõe-se a contar uma história surpreendente. Relata que, seduzido pelo ar solitário e isolado de um farol, consegue realizar seu sonho passando uns dias nesse local. É quando conhece duas figuras misteriosas que não se conversam: Gerebita e Cabrea. O primeiro defende a idéia, insistentemente confessada para o narrador, de que o segundo está louco. Pergunta então se seria crime se defender de um ataque de um maluco matando-o. É uma premonição, além de deixar nas entrelinhas que o que está para ocorrer tinha sido premeditado. Pouco depois, os dois mergulham num duelo sangrento, em que Gerebita consegue matar o seu oponente com dentadas na jugular. Quando o narrador abandona o farol, massacrado por experiências tão carregadas, toma conhecimento dos motivos que levaram a essa tragédia. Gerebita fora casado com uma mulher chamada Maria Rita, que o trocou por Cabrea, que também é trocado por outro homem. Tempos depois o destino fez com que os dois fossem nomeados para trabalhar no mesmo farol, passando a estabelecer uma convivência de tensão surda.


Não deixe de notar que a narrativa várias vezes se abre para que haja comentários dos ouvintes com o enunciador. É uma maneira de o texto não ficar pesado, cansativo. Além disso, deve-se observar as técnicas expressionistas (o exagero que beira o grotesco) e naturalistas (preferência pelos aspectos escabrosos do comportamento humano). Finalmente, não se deve perder de vista que este conto foge ao padrão de Monteiro Lobato, já que não é regionalista. Passa-se no litoral, ou seja, bem longe do seu conhecido Vale do Paraíba.


O Engraçado Arrependido  Trata-se da história de Pontes, um típico piadista, que consegue arrancar risos nos atos mais simples. Até que um dia resolve ser sério, desejo que não consegue realizar, pois sempre imaginam que é mais uma peça que está pregando. Tenciona, pois, arranjar um cargo no funcionalismo público, o que só obterá se surgir uma vaga, conforme avisa seu padrinho. Resolve, de forma maquiavélica, atacar Major Antônio, homem extremamente sério e que sofre de um aneurisma prestes a estourar por qualquer esforço. Seu plano, pois, é matá-lo com suas piadas e assim ficar com o seu emprego. No começo parece difícil, devido ao caráter circunspeto do doente. Até que, depois de muitas pesquisas sobre o gosto humorístico da vítima, consegue dar o golpe fatal. Mergulha, a partir de então, no remorso, isolando-se de todos. Semanas depois, recuperado, volta à ativa, mas descobre que havia perdido a vaga, pois a demora provocada por seu sumiço forçara a nomeação de outra pessoa. O protagonista enforca-se com uma ceroula, o que para a cidade acaba sendo visto como mais uma piada.


Note como neste conto o psicológico acaba se resvalando para o patológico, para o anormal, o patético, o exagerado. Observe, também, que ainda não é aqui que se manifesta o caráter regionalista do autor.


A Colcha de Retalhos – Neste conto já se manifesta a temática que tanto consagrou o seu autor: a crítica à decadência da zona rural. O narrador faz uma visita a Zé para propor-lhe negócios. No entanto, este recusa, o que revela sua indolência. Esse seu caráter é responsável pela decadência e atraso em que se encontra sua fazenda, reforçada pelo desânimo de sua esposa e pelo caráter arredio de sua filha, Pingo ou Maria das Dores. A única firme, forte, é uma velha, verdadeira matriarca. Mas é por pouco tempo. Anos depois surge a notícia de que Pingo, verdadeiro bicho do mato, havia fugido com um homem para manter uma relação desonrosa. É a derrocada final. A mãe da moça morre, o pai mergulha mais ainda na decadência e a matriarca já não encontra mais motivos para sua existência. O momento mais tocante é quando ela passa a descrever para o narrador a colcha que estava costurando durante anos, toda composta de peças de roupa que Pingo ia usando e dispensando desde recém-nascida. O último pedaço estava reservado para um retalho do vestido de noiva, que não chegou a existir.


Note como a decadência em que a menina mergulha é um símbolo da decadência rural. Note também o colorido da linguagem do contista, que retrata com fidelidade o andamento do registro oral de suas personagens, como no trecho “Des’que caí daquela amaldiçoada ponte”, entre tantos outros.


A Vingança da Peroba – Mais um conto que critica a decadência rural provocada pela indolência dos fazendeiros. Há aqui uma oposição entre duas famílias, os Porunga, fortes e de vida bem estabelecida, graças à força de vontade de suas ações, e os Nunes, mergulhados na preguiça, desorganização e cachaça. Os dois clãs desentendem-se por causa de uma paca, há muito desejada pelo Nunes, mas que acabou sendo caçada por um Porunga. Movido por uma mistura de rivalidade e de inveja, Nunes resolve finalmente investir em suas terras. Seus esforços têm fruto, gerando uma boa colheita de milho. Resolve então construir um monjolo, pois não quer ficar atrás do seu vizinho em desenvolvimento. Corta  uma peroba imensa, que estava na divisa das duas terras. Já há aqui motivo de desentendimento, que arrefece quando os Porunga resolvem não brigar mais pela árvore. Semelhante ao conto “Faroleiros”, há o emprego da premonição no meio da narrativa. Um aleijado, que havia sido contratado por Nunes para ajudar na construção do engenho, conta uma história de que certas árvores se vingam por terem sido cortadas. O fato é que o monjolo é construído, mas todo torto, produzindo mais barulho do que outra coisa, o que justifica o seu apelido: Ronqueira. Decepcionado e envergonhado, mergulha na cachaça. Um dia, depois que ele e seu filhinho se embebedaram, acaba adormecendo na rede. Acorda com a gritaria das mulheres de sua casa: o engenho havia esmagado a cabeça da criança no pilão. Irado, Nunes destrói a machadadas a máquina assassina.


Um Suplício Moderno – Este conto apresenta o estafeta, uma espécie de carteiro, como o tipo mais humilhado das cidades do interior. Trata-se da história de Biriba, um pobre coitado que acaba se tornando o burro de carga de todas as pessoas de Itaoca, que ainda cometem o desatino de reclamar dos favores que faz para elas. Sua paciência esgota-se a ponto de pedir demissão, mas não o deixam levar adiante seu plano. Era interesse de todos ter alguém tão submisso. É quando resolve se vingar, traindo Fidêncio, seu superior. Recebe um pacote muito importante para as eleições. Não o entrega, sumindo com ele por dias. É o motivo da queda do maioral, provocando a subida do inimigo, Evandro, que não poupa quase ninguém do antigo governo, apenas o pobre Biriba, recebido de forma bastante atenciosa. Provavelmente desconfiando que tudo iria continuar como antes, mudados apenas os personagens, some de Itaoca.


Meu Conto de Maupassant – Essa narrativa é norteada pelos temas do amor e da morte, comuns em Maupassant e grandes elementos vitais de Lobato. O narrador, ao passar de trem diante de uma árvore, um saguaraji, lembra-se de um crime ocorrido há muito. Tudo havia começado com o aparecimento, nas redondezas daquele vegetal, do cadáver decapitado de uma velha. Investigações são feitas e tem-se como principal suspeito um italiano, que consegue se safar, já que não havia provas. Os anos passaram-se e novos indícios surgem sobre o caso, levando o italiano, que havia sumido no Brás, a ser mais uma vez conduzido para a justiça. Durante toda a viagem de trem, o acusado não deu trabalho algum, mostrando-se por demais submisso. Até o momento em que o veículo passa diante do saguaraji. É quando o sujeito se atira para fora do transporte, sendo depois encontrado morto junto à árvore. Fica a idéia, por muito tempo, de que o remorso pelo crime cometido o havia conduzido ao suicídio, no entanto, tudo é desfeito quando o filho da assassinada confessa o delito. Mergulha-se, pois, no clima de mistério à Maupassant.


Pollice Verso – Narra-se a história de Inácio, alguém que já de criança mostrava um gênio negativo ao gostar de dissecar pássaros. Seu pai, homem dotado de linguagem empolada (o que o tornava uma ilha em seu meio tão pobre intelectualmente) via nesse costume, no entanto, uma tendência para a Medicina e dedica todas as suas forças em ver seu filho seguindo essa carreira. O rapaz acaba realizando o sonho do pai, mas torna-se um pelintra, mais preocupado em se exibir e conseguir o mais rápido possível dinheiro para voltar aos braços da amante francesa, Yvonne, que havia conhecido nos tempos da faculdade. Seu bilhete de loteria é conseguir cuidar de um ricaço, Mendanha. Sua intenção não é curá-lo, pois não seria tão lucrativo quanto a morte, que lhe possibilitaria cobrar uma quantia exorbitante. Com o falecimento do paciente, a família recebe a conta, que acha exorbitante, levando a questão ao tribunal. Ali, Inácio conta com o corporativismo, já que os outros médicos (tão menosprezados pelo recém-formado) dão-lhe parecer favorável. Viaja, pois, para Paris, enganando a todos, dizendo que tinha se estabelecido na carreira e estava em contato com gente do alto quilate da medicina. Estava mais era curtindo a vida.


Bucólica – Outro conto regionalista que critica a “lassidão infinita” da zona rural. Narra-se o atraso em que vivem Veva e seu marido, Pedro Suão. Os dois têm uma filha, Anica, deficiente. Esse é o motivo que faz sua mãe tratar-lhe mal, desejando a morte da pequena, já que não vê utilidade em sua existência quase paralítica. O clímax, temperado a doses de crueldade absurda, está no relato que Libória, a empregada do casal, faz ao narrador. A menina havia morrido de sede, pois a mãe havia-lhe negado água, mesmo sabendo que a coitada estava com febre. O mais trágico é que a única que atendia às vontades da enferma era a criada, que naquele momento estava retida fora da casa graças a uma chuva torrencial que aparecera. O funesto está no fato de a mocinha ter se arrastado até o pote d’água, morrendo ao pé deste.


Note como o título do conto estabelece uma gigantesca ironia com relação ao seu conteúdo.


O Mata-Pau – A história deste conto é introduzida por meio da simbologia do mata-pau, planta que surge discretamente numa árvore, mas que com o tempo cresce a ponto de sugar-lhe toda a seiva. Estabelece-se, pois, relação com Elesbão e Rosa, que há muito queriam um filho, mas não conseguiam. Até que no meio de uma noite surge uma criança na terra deles. Adotam-na, batizando-a de Manuel Aparecido. Quando cresce, acaba tendo um caso com a madrasta. Dominado por sentimento malignamente possessivo, mata o padrasto e depois consegue fazer com que Rosa passe a fazenda para o nome dele. Vende tudo e some com o dinheiro, não sem antes trancar a ex-amante em casa, que incendeia. A sorte dela é que, além de conseguir escapar, enlouquece, o que é-lhe um alívio, pois não tem noção da miséria em que caiu a sua vida.


Bocatorta – Conto carregado de elementos macabros e expressionistas. É a história de Bocatorta, uma figura hedionda e deficiente que vive isolado no meio do mato. Sua biografia é relatada numa reunião familiar, o que desperta a curiosidade em vê-lo. Uma das meninas, Cristina, fica com medo, mas acaba indo, encorajada pelo noivo. Assolada pelo medo e fragilizada pela mudança de clima que ocorre durante a viagem, fica doente, terminando por morrer. Mais tarde, um rapaz que gostava muito dela percebe algo estranho no cemitério e corre para pedir ajuda. Quando todos chegam lá, descobrem Bocatorta violando o cadáver da moça, em pleno ato de necrofilia. Acaba sendo perseguido, morrendo afogado num atoleiro que existia lá por perto.


O Comprador de Fazendas – Quase como para aliviar a leitura depois de dois textos tão pesados, este conto mostra-se mais jocoso. É a história de Moreira, dono da fazenda decadente – mais uma vez esse tema! – Espiga, que não consegue ser vendida, assim como sua filha Zilda não consegue arranjar casamento. Até que surge Trancoso, sujeito bem afeiçoado e que se mostra interessado em comprar a propriedade. Surpreendentemente, é o primeiro que se mostra a elogiar tudo, o que faz com que seja bem tratado, podendo até cortejar Zilda. Parte, prometendo fechar negócio em uma semana. Com a demora da resposta, Moreira faz pesquisas, descobrindo que o indivíduo ganhava a vida andando de fazenda em fazenda, sempre se mostrando interessado em comprar, o que lhe garantia casa e comida por alguns dias. O proprietário, frustrado, fica irado. Tempos depois, Trancoso ganha na loteria e retorna à Espiga, dessa vez para comprá-la realmente, mas é recebido com uma surra de rabo de tatu. Vai-se, aí, o sonho de vender a fazenda e de casar Zilda.


O Estigma – Bruno, narrador, conta a história de seu amigo, Fausto, que se casou praticamente interessado em dinheiro, já que o relacionamento era o que se chamava “face noruega", ou seja, semelhante ao lado de uma vegetação em que não bate sol. Tudo se complica quando o marido se envolve com uma prima, Laurita, muito mais jovem do que a sua esposa. Até que a mocinha aparece morta com um tiro no peito. Suspeita-se que tenha se suicidado e o narrador chega a pensar que de remorso por manter um relacionamento adulterino. Tempos depois, o filho de Fausto nasce, apresentando uma marca no peito, na mesma região que Laura havia atingido para pôr fim a vida. Desenvolve então a teoria de que aquela criança, quando feto, fora a única testemunha do crime cometido por sua mãe. Em outras palavras, não houve suicídio, mas um crime passional e a criança veio ao mundo para denunciar sua progenitora. Assim que vê esse sinal, mostra para a esposa, dizendo: “Olha, mulher, quem te denuncia!”. Em pouco tempo está morta. O narrador, que visita a personagem muitos anos depois, pôde ver o sinal e descobrir que era tudo ilusão, pois não havia como a marca presente no peito da criança provar ou mesmo denunciar qualquer coisa.


Prefácio da 2ª Edição de Urupês – Explica-se aqui o que levou Lobato a produzir seus textos sobre a indolência do caipira. Tudo havia começado com um comentário para o jornal em linguagem vazada de emotividade e estilo, o que despertou nos leitores um desejo por mais textos do mesmo quilate.


Velha Praga – O artigo que transformou um “fazendeirinho” em literato disserta, de forma indignada e irônica, sobre o atraso do comportamento do caboclo, que praticamente põe toda a validade do solo e da agricultura a perder por causa de seu costume bárbaro de realizar queimadas.


Urupês – Este é um dos mais famosos textos de Monteiro Lobato. Nele, desanca uma crítica das mais ferozes que já se fez sobre qualquer tipo nacional. O alvo de seu ataque é o caboclo. Derrubando uma tradição cara, inaugurada por José de Alencar, que apontava como a mestiçagem do índio com o branco como geradora de uma nação forte, Lobato crê no contrário. Sua teoria institui a tese do caboclismo, ou seja, a mistura de raças gera um tipo fraco, indolente, preguiçoso, passivo. Sua religião manifesta-se por meio das mais primitivas formas de superstição e magia. Sua medicina é mais rala ainda. Sua política é inexistente, já que vota sem consciência, conduzido pelo maioral das terras em que mora. Seu mobiliário é o mais escasso possível, havendo, no máximo, apenas um banquinho (de três pernas, o que poupa o trabalho de nivelamento) para as visitas. Não tem sequer senso estético, coisa que até o homem das cavernas possuía. E quanto à produção, dedica-se apenas a colher o que a natureza oferece. É, portanto, o protótipo de tudo quanto há de atrasado no país.


















artigo científico sobre urupês


“Atualmente estou em luta contra quatro piolhos desta ordem – ‘agregados’ aqui das terras. Persigo-os, quero ver se os estalo nas unhas. Meu grande incêndio de matas deste ano a eles devo. Estudo-os. Começo a acompanhar o piolho desde o estado de lêndea, no útero duma cabocla suja por fora e inçada de superstições por dentro (...) Contar a obra de pilhagem e depredação do caboclo. A caça nativa que ele destrói, as velhas árvores que ele derruba, as extensões de matas lindas que ele reduz a carvão. Havia uma gameleira colossal perto da choça, árvore centenária – uma pura catedral. Pois ele derrubou-a com três dias de machado – atorou-a e dela extraiu (...) uma gamelinha de dois palmos (...) Como aproveitou a gameleira, assim aproveita a terra. Queima toda uma face de morro para plantar um litro de milho (...) o piolho, afugentado, vai parasitar um chão virgem mais adiante. A nossa literatura é fabricada nas cidades por sujeitos que não penetram nos campos de medo dos carrapatos. E se por acaso um deles se atreve e faz uma ‘entrada’, a novidade do cenário embota-lhe a visão, e ele, por comodidade, entra a ver o velho caboclo romântico já cristalizado – e até caipirinhas cor de jambo (...) O meio de curar esses homens de letra é retificar-lhes a visão. Como? Dando a cada um, uma fazenda na serra para que a administrem. Se eu não houvesse virado fazendeiro e visto como é realmente a coisa, o mais certo era eu estar lá na cidade a perpetuar a visão erradíssima do nosso homem rural. O romantismo indianista foi todo ele uma tremenda mentira; e morto o indianismo, os nossos escritores o que fizeram foi mudar a ostra. Conservaram a casca (...) Em vez de índio, caboclo”(Lobato, apud Landers, 1988:43).

“Em extenso Relatório que há mais de um ano apresentamos, o jovem cientista Dr. Arthur e eu, ao eminente Dr. Oswaldo Cruz, de uma excursão de sete meses, com um percurso a cavalo de mais de 4.000 quilômetros, através dos sertões da Bahia, Pernambuco, Piauí e Goiás, vem descrita e documentada a trágica epopéia da vida sertaneja”.  (Penna, 1918:8).

Nísia Trindade Lima (1999) e Aluízio Alves Filho (1979), em seus livros, destacam uma característica da bibliografia sobre o pensamento social brasileiro. Estes autores ressaltam que, embora crítica, esta literatura restringe-se a alguns nomes. Assim, pensadores como Monteiro Lobato, Manoel Bomfim, Belisário Penna, Renato Kehl e outros que interpretaram o país encontram-se um pouco esquecidos. As interpretações sobre a sociedade tiveram a importante participação destes intelectuais, contudo, eles não são reconhecidos como relevantes autores do pensamento brasileiro, embora muitos tivessem sido divulgadores das representações sociais que ainda hoje estão presentes em nosso imaginário social. Este é o caso dos cientistas-intelectuais, que participaram da campanha pelo saneamento do Brasil e implantação de uma educação higiênica nos lares e escolas. No âmbito deste texto, não esgotamos as inúmeras possibilidades de pesquisa que esses pensadores possui. Vários projetos, artigos e dissertações serão necessários para se compreender a contribuição das idéias de Lobato, Penna e Kehl.

Urupês, primeiro livro de
contos de Monteiro Lobato, há uma impressionante descrição de
um mata-pau, fenômeno certamente bem conhecido das gentes
da roça, porém estranho aos habitantes da cidade. O conto, um
dos mais apreciados do escritor paulista, recebe o nome desse
fenômeno da natureza. Chama-se “O Mata-Pau”. Tentarei
explicar, com a ajuda do próprio Lobato, o que seja isso.
Trata-se de uma planta parasita que, de alguma forma,
desenvolve-se numa árvore, na forquilha de um galho. Começa
fininha, com “dois filamentos escorridos para o solo” e “meia
dúzia de folhas”. O fiozinho vai descendo, encontra o solo,
transforma-se em raiz, "pega a beber sustância da terra", cria
fôlego, cresce, engrossa, vira  tronco e mata a árvore mãe.
Descrições como esta, entremeadas de situações e diálogos,
servem com certa frequência a Monteiro Lobato como exemplo
e motivação para os seus contos. Nesse, o mata-pau árvore detona
a história de um mata-pau gente, que cresce, engrossa e mata
quem o cria. Exatamente como ocorre com a árvore.
Como se não bastasse a descrição literária, as primeiras edições
de Urupês traziam, na capa, o desenho de um mata-pau feito por J.
Wasth Rodrigues, onde se vê um tronco de árvore abraçando e
sufocando outro. Aliás, nessas primeiras edições, todo o volume –54
RE V I S TA DA  AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
esse conto incluído - vinha também ilustrado por um “curioso sem
estudos”, que outro não era senão o próprio Lobato.
Vaticínio ou não, o contista Monteiro Lobato acabou sendo
senão morto, ao menos grandemente abafado, não por um, mas
por dois mata-paus: Jeca Tatu e a literatura infantil. Hoje, na
distância do tempo, podemos dizer que Jeca Tatu foi um
fenômeno transitório, que pouco sobreviveu ao seu autor. Mas, à
época, chegou a ser mais famoso que ele próprio, a ponto de
incomodá-lo, como incomodaram as pombas a Raimundo
Correia. Desabafa-se com o escritor e jornalista Léo Vaz, quando
a Revista do Brasil era abarrotada diariamente por correspondência
de todo o país sobre o personagem:
Seu Léo, este negócio do Jeca já me fede... Sempre tive
antipatia pelo Raimundo Correia, desde que me contaram que
ele não podia ouvir a menor alusão às suas “Pombas” sem se
irritar. Parecia-me isso um pedantismo ou cabotinismo
intolerável. Pois esse raio de Jeca Tatu está me fazendo pagar
a língua: já estou de Jeca até os gorgomilos. É Jeca de todo
jeito: assado, cozido, frito, picadinho, de escabeche, com farofa
ou de molho-pardo, que o correio me despeja, duas vezes por
dia!... E não fica nisso: todo sujeito que me encontra na rua,
no café, ou onde quer que seja, não acha outra amabilidade
para me dirigir, senão me atochar com coisas, façanhas,
patranhas, mentiras do Jeca... Eu vomito; eu preciso vomitar
o raio deste Jeca, ou arrebento!...
Sabemos todos a sua gênese. Nasce da laboriosa concepção
literária de um autor em busca de um personagem que se tornasse
um tipo brasileiro em confronto aos falsos tipos brasileiros do
romantismo, mas também, e talvez naquele momento sobretudo,
da justificada revolta de um fazendeiro diante das queimadas
sucessivas das suas terras, criminosamente praticadas pelos
caboclos. Indignado, escreve um artigo, ao qual intitula “Velha 55
RE V I S T  A DA AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
Praga”, e manda-o para as “Queixas e Reclamações” do jornal O
Estado de S. Paulo. Em lugar de publicá-lo modestamente na
referida seção, o jornal, que já conhecia o autor, estampa-o com
destaque, em local separado, provocando uma atenção especial e
uma consequente reação do público. Lobato envia outro artigo,
agora intitulado “Urupês”, que merece igual acolhida do jornal.
Se “Velha Praga” é apenas a denúncia de um crime, em que no
final desfilam nomes caricatos de caboclos como Manoel Peroba,
Chico Marimbondo e Jeca Tatu, o artigo “Urupês” segue além: é
uma catilinária que desanca o romantismo e o ufanismo nacionais,
e arrasa o caboclo, que agora não tem outro nome além de Jeca
Tatu. Jeca passa a ser o símbolo da preguiça, da inutilidade, do
pessimismo, da incompetência e da inconsequência do nativo rural
brasileiro. Um personagem nascido não de um romance ou de
um conto, mas de um artigo.
O   p r ó p r i o   L o b a t o   e n d o s s o u   a   l e n d a ,   a m p l a m e n t e
desmistificada por Edgard Cavalheiro, seu principal biógrafo, de
que a acolhida do jornal e a reação do público foram decisivas
para a carreira do escritor. Na verdade não foram. Ao enviar os
dois artigos para O Estado de S. Paulo, embora ainda não tivesse
publicado um único livro, já era um escritor pronto, conhecido e
respeitado na pequena São Paulo da época. Com esses artigos ou
sem eles, teria dado seguimento à sua carreira de escritor e de
contista. Apenas, se já vinha publicando artigos em jornais e
contos em revistas, intensificou essas colaborações. De sorte que,
ao reunir os textos do primeiro livro, tinha em mãos um material
testado em letra de forma. Ia intitular esse livro, inicialmente,
Dez mortes trágicas; chegou a anunciá-lo desta forma na Revista
do Brasil, de sua propriedade; depois, Doze mortes trágicas. Mas,
como sempre, o senso de oportunidade prevaleceu. Incluiu, como
apêndice, o artigo provocador, modificou o final de um dos
contos, eliminando a tragédia e, seguindo a oportuna sugestão de
um amigo, cunhou para o volume o título vitorioso: Urupês. Um
golpe de publicidade, sem dúvida. Mas ali estava plantada, na56
RE V I S TA DA  AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
forquilha de um galho, a parasitazinha, que iria crescer e virar
mata-pau.
O outro mata-pau do contista, a literatura infantil, nasceu
fortíssimo em 1921, com a publicação d'A Menina do narizinho
arrebitado, ponto de partida para todos os demais livros do autor
no gênero. Vale aqui um tardio mas necessário reparo. Em longo
e comovido artigo publicado em A Tarde em 6 de julho de 1948,
dois dias após a morte do pai de Emília, Anísio Teixeira afirmou:
A   l i t e r a t u r a   i n f a n t i l   f o i   t o d a   e s c r i t a   c omo   ime n s o
divertimento e só no fim é que começou a surpreendê-lo e
absorvê-lo como a sua obra maior.
É uma afirmação que surpreende, partindo de Anísio Teixeira,
ami g o pe s soa l   e   g  r  ande   admi r  ador  de  Loba to.  Por q u e   é
e q u ivoc ada ,  ou ,  pior   a inda ,  pode   l e  va r  o  l e i tor   a  pens a r
equivocadamente a respeito de Lobato e a sua obra infantil. Não
há dúvida de que o escritor divertiu-se bastante com a feitura dos
seus livros para crianças, uma obra repassada de humor e muita
travessura, bem à feição lobatiana, como também não há dúvida
de que ele foi surpreendido com o seu extraordinário êxito, bem
além das suas mais otimistas expectativas, surpresa que ocorreu
não “no fim”, como afirma o grande educador baiano, mas ainda
no início, com o primeiro livro. A surpresa dos últimos anos deveuse à sua imensa popularidade em decorrência dessa literatura,
que o tornava o escritor mais conhecido e mais amado do país. O
equívoco maior, entretanto, é afirmar que aquilo foi um “imenso
divertimento” que só no fim passou a ser levado a sério. Lobato
nunca fez nada, principalmente de grande vulto, apenas para
divertir-se. O seu atilado sentido comercial não permitiria. A prova
é que, ao imprimir esse primeiro livro por sua própria conta, fez
logo uma ousadíssima edição de cinquenta mil exemplares,
imprimiu mais quinhentos para serem distribuídos gratuitamente
nas escolas a título de propaganda, e anunciou na própria capa 57
RE V I S T  A DA AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
do volume que era um “segundo livro de leitura para uso das
escolas primárias”, ou seja, vinculou a obra à escola para sugerir
e estimular a vendagem, antecipando-se a uma tendência dos
futuros editores do gênero no Brasil. Além da distribuição gratuita
dos exemplares, realizou também uma grande propaganda na
imprensa em torno do lançamento, tratando o assunto com
seriedade e tino empresariais. A rápida vendagem da enorme
edição e a entusiasmada aceitação da garotada, animou-o a seguir
encarando o empreendimento como um excelente negócio que,
como tal, devia ser levado a sério. Aliás, atirou-se sôfrego à
literatura infantil em alguns momentos de grande aperto
financeiro, como uma taboa de salvação, chegando a considerar
Emília, em carta a Godofredo Rangel, em 1943, a “encantadora
Rainha Mab do meu outono”. Não há, pois, nenhum sinal de
simples divertimento nessa atividade de Monteiro Lobato, pelo
contrário, foi uma ocupação que, desde o início, jamais o deixou,
seduzindo-o e absorvendo-o extraordinariamente.
Também do ponto de vista estritamente literário, essa atividade
não foi tratada em nenhum momento como divertimento, mas
como uma arte que ele procurou aprimorar em cada livro e cada
edição. Da primeira edição do primeiro livro, A Menina do narizinho
arrebitado, ao último, Os Doze trabalhos de Hércules, até a preparação
da obra completa, Lobato não parou de reescrever e aperfeiçoar
a sua literatura para crianças, absolutamente consciente da
importância do que estava fazendo. O resultado foi, como se sabe,
algo inédito, não apenas na literatura brasileira, mas também na
literatura infantil universal, com a construção de uma saga ainda
hoje não superada por nenhum autor.
 Mas, sobre a literatura infantil de Lobato não se pode falar de
forma tão aligeirada em texto tão curto. Exige estudo longo e
cuidadoso. Lembro apenas que foram tamanhos a força e o
encantamento dessa literatura voltada para as crianças, que a ela
ficou definitivamente associado o nome do autor. Ainda hoje,
para a maioria dos brasileiros, quando se pronuncia o nome de58
RE V I S TA DA  AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
Monteiro Lobato, é no pai de Emília, de Narizinho, de Pedrinho,
de dona Benta, de tia Nastácia, do Visconde de Sabugosa, de
Rabicó, enfim, no criador do Sítio do Picapau Amarelo que se
pensa, bem mais do que no contista.
Mas volto a Urupês. Em 1918, Lobato já não era mais um
fazendeiro. Morava na capital e era assumidamente o que se
poderia chamar de um homem de letras. De colaborador da Revista
do Brasil, na qual vinha publicando contos e críticas, passara a
proprietário, e todo o seu interesse voltava-se para livros e
literatura. Nesse mesmo ano, imprimiu Urupês por sua própria
conta nas oficinas d’O Estado de São Paulo e distribuiu o livro pelas
poucas livrarias da então provinciana cidade de São Paulo. A capital
paulista tinha apenas “meia dúzia de livrarias mal arrumadas e
desertas”. E essa não era uma realidade unicamente paulistana.
Em todo o país havia pouco mais de trinta livrarias. Entretanto,
existiam mais de mil agências postais espalhadas pelos estados
brasileiros. O Lobato comerciante, que sempre coexistiu com o
escritor, não teve dúvidas. Enviou a cada agente postal uma carta,
pedindo indicação de comerciantes de toda espécie que aceitassem
o livro em consignação – um sistema até então não praticado.
Quase todos responderam, e o país foi inundado por exemplares
de Urupês, que passaram a ser vendidos em lojas de ferragens,
farmácias, bazares, bancas de jornal, papelarias, enfim, onde
houvesse um ponto de venda disponível. O sucesso foi imediato.
A primeira edição, de mil exemplares, saída em agosto, esgotouse em poucos dias; a segunda, de dois mil exemplares, em um
mês; e a terceira edição, de quatro mil exemplares, foi posta na
rua já no final desse ano.
Ao lado do enorme sucesso, porém, acontecia algo que
desgostava o autor. O livro fazia barulho na imprensa, mas não
era falado e discutido por causa dos contos, e sim em função da
parasitazinha lá plantada em forma de artigo, o mata-pau Jeca
Tatu. O orgulho nacional –  que, àquele tempo, havia isso  –  ,
insuflado pelas imagens fantásticas dos índios de José de Alencar 59
RE V I S T  A DA AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
e Gonçalves Dias, sentiu-se ferido com o retrato da realidade
pintado por Lobato, e o artigo “Urupês” que, nas páginas d'O
Estado de São Paulo apenas provocara a reação de alguns leitores,
agora, posto em livro, tornava-se motivo de polêmica. Discutiase acirradamente o caboclo.
Estava o livro em sua terceira edição, permanecia a polêmica
na imprensa, quando Ruy Barbosa, do alto do seu imenso prestígio,
abriu uma conferência no Teatro Lírico, no Rio de Janeiro, com a
célebre pergunta:
Senhores:
Conheceis, porventura, o Jeca Tatu, dos Urupês, de
Monteiro Lobato, o admirável escritor paulista?
E por mais de meia dúzia de parágrafos, o tribuno baiano
seguiu avalizando e enaltecendo os conceitos de Lobato a respeito
do caboclo e da realidade rural brasileira. Foi uma surpresa e um
espanto. Ruy não costumava sair das suas alturas para citar, muito
menos para elogiar autores vivos, e abria uma surpreendente
exceção para Lobato e seu livro de estreia. A terceira edição de
Urupês esgotou-se rapidamente, e também a quarta, a quinta, a
sexta e a sétima. De toda parte vinham pedidos, o livro chegou
ao décimo quinto milheiro.
Era um acontecimento absolutamente inusitado nas letras
nacionais, sobretudo naquele começo de século em que, após a
morte de Machado de Assis, a literatura no Brasil, pelo menos na
prosa de ficção, atravessava uma fase de calmaria, quando nada
parecia acontecer de muito importante. Digo “nada parecia
acontecer”, porque, de fato, embora ainda sem grande penetração
popular, começavam a escrever e publicar um Lima Barreto, um
Simões Lopes Neto, um Valdomiro Silveira, sem esquecer os
baianos Xavier Marques, Afrânio Peixoto e Almachio Diniz, que
batalhavam  –  hoje se percebe que inutilmente, porque estão
ignorados ou esquecidos –, pela incorporação definitiva das suas60
RE V I S TA DA  AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
obras no seletivo repertório da literatura nacional. Mas eram
escassos os novos livros à disposição do público e os lançamentos
não empolgavam. Subitamente Lobato preenchia a lacuna e
tornava-se um escritor conhecido e admirado em todo o país.
Enquanto a imprensa preocupava-se com os defeitos e as
qualidades de Jeca Tatu, com a justiça ou a injustiça do retrato
pintado pelo autor de Urupês, enquanto uns insultavam e outros
defendiam o autor do famigerado personagem-símbolo do
caboclo brasileiro, o público lia com grande gosto os contos do
livro, e dava mostras de querer mais. Então, sem nenhuma dúvida
o contista impressionava, independentemente do artigo polêmico.
A árvore, embora sufocada pelo mata-pau, não estava morta.
É preciso lembrar que o êxito do contista Monteiro Lobato
não estava apenas no resultado de uma série de circunstâncias
favoráveis, todas elas muito bem aproveitadas pelo autor. Ali
estava, naquelas narrativas trágicas ou tragicômicas, um escritor
de excepcional talento, que aliava uma boa literatura ao gosto e à
necessidade consumidora do público. Apesar de Urupês ser o
primeiro livro, os contos nele apresentados não eram de estreante.
Ao contrário de Machado de Assis, que se foi aprimorando no
gênero livro a livro, partindo da inexperiência de Contos fluminenses,
em 1870, alcançando a maestria de Papéis avulsos, em 1882, e, daí
por diante, seguindo em altíssimo nível até Relíquias de casa velha,
em 1906, Lobato aprimorou-se publicando em jornais e revistas.
Escreveu e reescreveu, fez, refez, modificou, leu muito, discutiu
exaustivamente o seu trabalho, sobretudo em cartas com
Godofredo Rangel e, quando se apresentou em livro, era um
contista maduro e passado a limpo. Seu volume de estréia, embora
não traga alguns de seus melhores contos, produzidos depois,
como “O Jardineiro Timóteo”, “Negrinha” e “O Colocador de
Pronomes”, é, em conjunto, o seu melhor livro de contos. Só um
escritor com o total domínio da linguagem e da técnica, com o
pleno sentido da relação espaço-tempo na ficção de curto fôlego,
com a segurança absoluta do seu objetivo dentro do gênero, 61
RE V I S T  A DA AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
realizaria com êxito contos como “Os Faroleiros”, “O Engraçado
Arrependido”, “A Colcha de Retalhos”, “A Vingança da Peroba”,
“O Mata-Pau”, “Bocatorta”, ou “O Comprador de Fazendas”.
Contos que beiram ora o dramalhão, ora a pieguice, ora a simples
anedota, ora a tragédia desnecessária, mas que, na sua mão segura
de narrador, no seu firme conhecimento da arte literária, nos
seus indiscutíveis recursos de frase e de efeito, tornam-se contos
pr imorosos,   e xempl a r e s  no  g êne ro  e  na  moda l idade   q u e
representam.
Essa modalidade estava definida desde o início. Numa carta
que escreveu de Areias, em 1909, a Godofredo Rangel, deixava
muito clara a sua concepção do gênero, bem como o seu objetivo
como contista. Diz Lobato:
Sou partidário do conto, que é como o soneto na poesia.
Mas quero contos como os de Maupassant ou Kipling, contos
concentrados em que haja drama ou que deixem entrever
dramas. Contos com perspectivas. Contos que façam o leitor
interromper a leitura e olhar para uma mosca invisível, com
olhos grandes, parados. Contos-estopins, deflagradores das
coisas, das idéias, das imagens, dos desejos, de tudo quanto
exista informe e sem expressão dentro do leitor. E conto que
ele possa resumir e contar a um amigo – e que interesse a esse
amigo.
Uma teoria que se afina às maravilhas com aquela outra famosa
de Edgar Allan Poe, em que o conto, como a anedota, deve ter
um só efeito, e esse efeito é preconcebido. Ou seja: o conto
constitui uma profusão de cenas e ações que preparam um efeito
em geral posto no desfecho. A história assim armada faz com
que a cena final determine um efeito regressivo que ilumina todo
o corpo da composição, dando-lhe significado. Exatamente o que
pensava Lobato, que via o fecho do conto como o fecho do soneto,
a chave de ouro, portanto, o ponto alto da composição.62
RE V I S TA DA  AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
A admiração de Monteiro Lobato por Maupassant e por
Kipling era confessa, particularmente por Maupassant. Defendia
abertamente o conto linear, de princípio, meio e fim, o conto que
sempre conta uma história, e opunha-se terminantemente ao
conto que se convencionou chamar “de atmosfera”. Essa postura,
tão radical, teorizada ao jeito lobatiano, de forma agressiva e
polêmica, quase sempre divertida  – e, como bem demonstrou
Jorge Amado, que terrível arma é o riso! – , fez com que Lobato,
apesar de ser considerado um renovador da prosa de ficção
brasileira, ignorasse os avanços técnicos do conto, não tomasse
c o n h e c ime n t o   d o s   i l imi t a d o s   r e c u r s o s   d e   amp l i a ç ã o   o u
desestruturação de enredo, e limitasse ferrenhamente as suas
páginas à modalidade da sua preferência. Isso fez –  e ainda faz –
a sua rejeição pelos adeptos do conto moderno. Mas não o afastou
à época do grande público, talvez pelo contrário. Dando razão ao
explosivo autor paulista, o grande público sempre preferiu o conto
clássico ao moderno, e não é segredo que as inovações do gênero,
que tanto o enriqueceram do ponto de vista da arte literária,
a br indo- lhe  nova  s  pe r spe c t i va s  de   c r i a ç ão,   a pa r t a r  am-no
enormemente desse público mais amplo, que voltou a sua atenção
para o romance, numa sábia advertência de que a arte literária
não deve ser excludente, Tchekhov não deve excluir Maupassant.
Pelo contrário: na diversidade de opções, encontra-se uma riqueza
que não pode ser desprezada.
Também não é verdade que o contista Monteiro Lobato tenha
sido grandemente prejudicado pelo movimento modernista de
22. Apesar de não lhe terem perdoado a famosa crítica a Anita
Malfatti, os próprios líderes desse movimento, em particular
Oswald de Andrade, reconheciam no autor de Urupês o seu caráter
pioneiro e renovador, tanto na linguagem, como nos temas e no
ambiente genuinamente brasileiros, não tendo sido poucas as vezes
em que foi considerado um precursor do movimento. Os livros
de conto de Lobato –  mesmo o mais fraco, Cidades mortas, lançado
às pressas no mercado, reunindo velhas páginas do início da sua 63
RE V I S T  A DA AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
experiência de contista ao lado de contos mais recentes, apenas
para aproveitar o êxito de Urupês  ultrapassaram incólumes toda a
entusiasmada fase detonada pela revolucionária semana – paulista,
e chegaram pelo menos aos anos cinquenta do século passado
com edições renovadas, sem falar da coleção completa, editada
em capa dura – e quase obrigatória nas estantes dos intelectuais
do país. Então, subitamente, por longos anos, sua obra de contista
sumiu das prateleiras das livrarias, para só retornar recentemente.
O que terá ocorrido, afora as meras questões editoriais, os
interesses ou o desinteresse das grandes editoras, sobretudo da
editora responsável por sua obra?
Cabe aqui uma reflexão sobre um aspecto que, evidentemente,
não deve ter sido a causa do desaparecimento comercial desses
livros por tão longo tempo, mas que pode ter contribuído de
alguma forma para o gradual desinteresse que os envolveu. Se o
tipo de conto que escrevia não afastou Monteiro Lobato do grande
público, talvez até, pelo contrário, tenha sido um fator importante
para a sua popularidade como contista, o mesmo não pode ser
dito em relação à linguagem utilizada na sua escrita, uma linguagem
nitidamente inspirada em Camilo, outra de suas grandes e
confessadas admirações. Paradoxalmente, nesse ponto, pareceme que Lobato percorreu o caminho inverso, aquele que, mais
cedo ou mais tarde, afasta o público mais amplo. Sua linguagem
literária é um amálgama ríspido de termos eruditos, arcaísmos,
j a rg õ e s,   p a l av ra s   t é c n i c a s,   d i z  e r  e s   c o l o q u i a i s   p o p u l a re  s,
regionalismos, onomatopeias e até de vocábulos inventados ao
sabor da escrita – os dicionários, hoje, registram cerca de setenta
desses vocábulos. Nela só não se encontram palavras chulas e de
baixo calão, que não eram admitidas na literatura da época. O
mais, há. É como se a língua fosse um ilimitado território sem
dono e sem regras, que servisse de todos os modos e maneiras na
construção peculiaríssima do seu texto, no qual, espelhando a
personalidade do autor, não faltam irreverência e ironia, ambas
tantas vezes transmudadas em humor, mesmo em narrações de64
RE V I S TA DA  AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
tragédia. Enfim, uma colcha de retalhos de impressionante e
perigoso efeito, capaz de seduzir ou afastar o leitor –  a depender
do gosto de cada um –  mas, muito provavelmente, a apenas afastar
o grande público, sobretudo o grande público de hoje, que terá
inclusive em muitos trechos dificuldade para entendê-lo. Lobato
era um homem que lia dicionário para distrair-se e, por outro
lado, pregava alto e bom som que se devia escrever como se fala,
que a verdadeira língua é a do povo, que não se cansa de reinventá-
la; nessa dubiedade de atitude e de pensamento, talvez resida a
explicação para o seu estilo desigual e costurado. Naturalmente,
com um instrumento de trabalho tão inusitado, seu texto já nascia
com cara e jeito inconfundíveis, cara e jeito de Lobato. Mas
também, por sua dificuldade de compreensão, tornava-se mais
um mata-pau do contista.
A história da literatura brasileira –  contada aos retalhos de
épocas e regiões  –  , contaminada pelas idiossincrasias dos
historiadores e analistas, não tem dado a devida importância ao
fato de ter sido Lobato o primeiro grande escritor brasileiro a se
apresentar, na literatura adulta, basicamente como contista. Antes
dele, Machado de Assis, colocando-se artisticamente entre o conto
clássico e o moderno, soube elevar o gênero às alturas mais
exigentes da qualidade universal, uma qualidade que só tem sido
eng  r ande c ida   com o pa s s a r  do  t empo,   a  ponto de   e s t a r
conseguindo, aos poucos e recentemente, a consagração de um
reconhecimento estrangeiro que vem se ampliando a partir de
estudiosos da nossa literatura em universidades de diversos países,
em particular da Europa. Porém Machado, em seu tempo, não se
apresentou basicamente como contista. Verdade que seus contos
sempre foram muito apreciados pelo público e, por sua facilidade
de publicação em jornais e revistas, contribuíram decisivamente
para divulgá-lo. Mas a sua obra, vasta e polígrafa, com incursões
significativas em todos os gêneros, alicerçava-se sobretudo no
romance para estabelecê-lo acadêmica e comercialmente. Os
emblemas da sua glória, enquanto vivo, foram de início a crítica 65
RE V I S T  A DA AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
literária e, posteriormente, os romances da segunda fase, Dom
Casmurro, Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Esaú e
Jacó e Memorial de Aires. O romancista eclipsou o crítico ainda em
vida, e o romance fez a sua nomeada por mais algum tempo após
a   s u a  mor  te.  Bem  ant e s  do  re conhe c imento  unânime  da
excepcional qualidade dos seus contos, discutia-se acaloradamente
se Capitu traiu ou não o desventurado Bentinho. Hoje, não há
dúvida, o contista Machado de Assis é, com muita justiça, tão
valorizado, estudado e lido quanto o romancista, havendo até
quem afirme ter sido ele bem maior como contista. Também
Afonso Arinos, o festejado autor de Pelo sertão, experimentou o
romance, a novela e o teatro nas mesmas proporções, já que, em
vida, publicou unicamente um livro de cada um desses gêneros.
Escreveu apenas nove contos, os cinco constantes de Pelo sertão, e
os quatro que formam o livro póstumo Histórias e paisagens. Coelho
Neto foi tão romancista quanto contista, ainda mais romancista.
Lima Barreto, embora também contista, foi bem mais romancista.
Lobato, desde o início da sua atividade literária até a derradeira
página de ficção para adultos, direcionou-se quase que unicamente
para o conto, propagando e sedimentando o gênero em nossas
letras, contribuindo decisivamente para a sua valorização como
arte literária no Brasil. Digo quase e não unicamente, porque há
também uma lamentável experiência dele com o romance, se é
que se pode chamar dessa forma a “pura obra da imaginação
fantasista”, para usar suas próprias palavras, que é o extravagante
O Choque das raças ou, como passou a ser chamado posteriormente,
O Presidente negro. Sem o maravilhoso pó de pirlimpimpim que levou
leitores de todas as idades, com absoluto encantamento, à Grécia
antiga, ao céu, ao País da Gramática, ao País das Fábulas e ao Reino
das Águas Claras, escreve, em 1926, em apenas três semanas, para
o rodapé do jornal A Manhã, um romance –  ou novela? ou conto
espichado? ou simples fantasia? –  de cunho futurista, no espírito
profético dos Verne, Wells, Huxley e Orwell, porém sem a
clarividência, a amplitude, a profundidade e o brilhantismo do66
RE V I S TA DA  AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
melhor desses autores, onde ele, antecipando as ideias racistas e
criminosas de Hitler e do nazismo, que tantas consequências
funestas iriam causar à humanidade já na década seguinte,
absurdamente defende a eugenia como uma das principais
soluções para os problemas da espécie humana, em particular do
povo norte-americano que é considerado, na obra, como o maior
povo do mundo. Como se não bastasse, apresenta uma ideia
ofensiva sobre o caráter da mulher, além de uma visão estreita e
injusta sobre o papel da mulher na sociedade, veiculando, com a
maior naturalidade, sobre o negro, a mulher, o deficiente físico e
o deficiente mental, conceitos e soluções hoje universalmente
considerados como preconceituosos, injustos, cruéis, perigosos
e até criminosos. É de estarrecer. Dir-se-á que não passa de uma
brincadeira de Lobato, tão dado a provocações de todo tipo. Uma
brincadeira de mau gosto. Porém, surpreendentemente, o tom
não é irônico, muito menos de brincadeira. Um livro estranho –
e menor –, sem dúvida, que apenas tem o mérito de ser bem
escrito, com uma boa técnica, uma narrativa fluente, uma
linguagem despida dos artificialismos e dos arcaísmos dos contos
de Urupês, capaz de prender com interesse o leitor da primeira à
última página, mas cujo conteúdo não faz jus ao talento e ao
nome do escritor. Sobretudo não faz jus ao largo e generoso
espírito que foi Monteiro Lobato. De qualquer forma, O Presidente
negro não lhe confere o título de romancista, nem ele a isso aspirou
ao escrevê-lo e publicá-lo.
Lobato é, na ficção de adultos, apenas um contista. Seus
principais contos são longos, na tradição dos contos franceses,
que se inicia com Prosper Mèrimée, consagra-se universalmente
com Guy de Maupassant e tem em Jean Paul Sartre um de seus
cultores mais recentes. Mas não chegam à novela. Sua acanhada
tentativa de novela, “Os Negros”, inserida em Negrinha, confundese com os demais contos e passa por um deles. Ainda quando
trabalha enredos que se desdobram, pondo em risco a estrutura
fechada, ou quando essas narrativas se passam em tempo ficcional 67
RE V I S T  A DA AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
extenso, como é o caso do magistral “O Colocador de Pronomes”,
da última fase, em que a história do personagem é contada desde
antes do nascimento até a sua morte, Lobato não passa do conto.
Como se o seu espírito inquieto quisesse sempre resolver a
narrativa de forma rápida e compacta.
Voltando ao tema dos mata-paus do contista, vale lembrar
que Lobato, o homem impaciente, irrequieto, empreendedor,
tornou-se também, ele próprio, um mata-pau do contista. Ardia
intensamente cada vez que acendia e logo apagava. Tendo
publicado Urupês em 1918, praticamente encerrou sua carreira de
contista em 1923, com a publicação de O Macaco que se fez homem,
livro cujos contos, na arrumação definitiva das suas obras
completas, diluem-se entre Cidades mortas e Negrinha. Depois disso,
todo voltado para os seus sucessivos projetos, como editora, ferro,
petróleo e, em particular, a literatura infantil, raramente escreve
algum conto, sendo praticamente o único realmente bom após
essa fase, o célebre "A Facada imortal", de 1942, que alguns críticos
consideram seu melhor conto. Não compartilho dessa opinião,
embora o reconheça excelente.
De sua obra completa em capa dura para adultos, formada
por quinze alentados volumes, apenas os três primeiros são de
contos: Urupês, Cidades mortas e Negrinha. Nos demais, há ensaios,
artigos, críticas, crônicas, entrevistas, prefácios e cartas, além do
abominável O Presidente negro. Nesses três volumes iniciais há
algumas páginas que, embora agradáveis de serem lidas, não
correspondem à qualidade e à fama do contista. São páginas nas
quais prevalecem o pictórico, o panfletário e o caricatural sobre
os elementos ficcionais. Há outras que apenas se valem do curioso
do episódio  – exatamente como uma anedota, como o divertido
“De Como Quebrei a Cabeça à Mulher do Melo”, que lhe valeu
um curioso processo na justiça. Mas, por outro lado, nesses três
volumes, pode ser encontrada com facilidade uma quinzena de
contos aos quais não seria exagero atribuir a dimensão das obrasprimas. Contos nos quais se sente o cuidadoso trabalho de68
RE V I S TA DA  AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
elaboração que caracterizam as grandes obras literárias, onde não
há nada em excesso ou faltando, e cada frase, cada palavra é
fundamental para o conjunto do texto. Contos, finalmente, cuja
leitura transmite ao leitor a sensação de plenitude. Seriam eles, na
minha opinião: “Os Faroleiros”, “O Engraçado Arrependido”,
“A Colcha de Retalhos”, “A Vingança da Peroba”, “O Mata-Pau”,
“Bocatorta”, “O Comprador de Fazendas”, “O Estigma”, “Júri
n a   Ro ç a ” ,   “O  F í g a d o   I n d i s c re t o ” ,   “Ne g  r i n h a ” ,  “ B u g i o
Moq u e ado” ,   “O  Ja  rdine i r o  Timót eo” ,   “O Coloc ador  de
Pronomes” e “A Facada Imortal”. Fora da literatura infantil –
q u e   t em  d e   s e r   a n a l i s a d a   à   p a r  t e   –   ,   é   d i f í c i l   p r  e v e r   o
comportamento comercial de uma nova edição da obra completa
de Lobato nos tempos de hoje. O início do século XXI trouxe-a
de volta às prateleiras das livrarias, e o resultado desse grande
empreendimento editorial certamente determinará o destino
desses livros nas próximas décadas. De qualquer forma, creio
que as quinze narrativas aqui apontadas poderão formar um
volume de seus melhores contos com absoluta garantia de êxito
comercial e acolhimento acadêmico –  ainda hoje e sempre. Porque
a árvore dos contos de Monteiro Lobato é forte o bastante para
resistir e sobreviver aos mata-paus que ele próprio e outros
plantaram nas forquilhas dos seus galhos.
__________
Aramis Ribeiro Costa é médico e administrador hospitalar, graduado em
Letras, poeta, contista e romancista, é autor de 16 livros, como EpiUrupês, primeiro livro de
contos de Monteiro Lobato, há uma impressionante descrição de
um mata-pau, fenômeno certamente bem conhecido das gentes
da roça, porém estranho aos habitantes da cidade. O conto, um
dos mais apreciados do escritor paulista, recebe o nome desse
fenômeno da natureza. Chama-se “O Mata-Pau”. Tentarei
explicar, com a ajuda do próprio Lobato, o que seja isso.
Trata-se de uma planta parasita que, de alguma forma,
desenvolve-se numa árvore, na forquilha de um galho. Começa
fininha, com “dois filamentos escorridos para o solo” e “meia
dúzia de folhas”. O fiozinho vai descendo, encontra o solo,
transforma-se em raiz, "pega a beber sustância da terra", cria
fôlego, cresce, engrossa, vira  tronco e mata a árvore mãe.
Descrições como esta, entremeadas de situações e diálogos,
servem com certa frequência a Monteiro Lobato como exemplo
e motivação para os seus contos. Nesse, o mata-pau árvore detona
a história de um mata-pau gente, que cresce, engrossa e mata
quem o cria. Exatamente como ocorre com a árvore.
Como se não bastasse a descrição literária, as primeiras edições
de Urupês traziam, na capa, o desenho de um mata-pau feito por J.
Wasth Rodrigues, onde se vê um tronco de árvore abraçando e
sufocando outro. Aliás, nessas primeiras edições, todo o volume 
esse conto incluído - vinha também ilustrado por um “curioso sem
estudos”, que outro não era senão o próprio Lobato.
Vaticínio ou não, o contista Monteiro Lobato acabou sendo
senão morto, ao menos grandemente abafado, não por um, mas
por dois mata-paus: Jeca Tatu e a literatura infantil. Hoje, na
distância do tempo, podemos dizer que Jeca Tatu foi um
fenômeno transitório, que pouco sobreviveu ao seu autor. Mas, à
época, chegou a ser mais famoso que ele próprio, a ponto de
incomodá-lo, como incomodaram as pombas a Raimundo
Correia. Desabafa-se com o escritor e jornalista Léo Vaz, quando
a Revista do Brasil era abarrotada diariamente por correspondência
de todo o país sobre o personagem:
Seu Léo, este negócio do Jeca já me fede... Sempre tive
antipatia pelo Raimundo Correia, desde que me contaram que
ele não podia ouvir a menor alusão às suas “Pombas” sem se
irritar. Parecia-me isso um pedantismo ou cabotinismo
intolerável. Pois esse raio de Jeca Tatu está me fazendo pagar
a língua: já estou de Jeca até os gorgomilos. É Jeca de todo
jeito: assado, cozido, frito, picadinho, de escabeche, com farofa
ou de molho-pardo, que o correio me despeja, duas vezes por
dia!... E não fica nisso: todo sujeito que me encontra na rua,
no café, ou onde quer que seja, não acha outra amabilidade
para me dirigir, senão me atochar com coisas, façanhas,
patranhas, mentiras do Jeca... Eu vomito; eu preciso vomitar
o raio deste Jeca, ou arrebento!...
Sabemos todos a sua gênese. Nasce da laboriosa concepção
literária de um autor em busca de um personagem que se tornasse
um tipo brasileiro em confronto aos falsos tipos brasileiros do
romantismo, mas também, e talvez naquele momento sobretudo,
da justificada revolta de um fazendeiro diante das queimadas
sucessivas das suas terras, criminosamente praticadas pelos
caboclos. Indignado, escreve um artigo, ao qual intitula “Velha  
Praga”, e manda-o para as “Queixas e Reclamações” do jornal O
Estado de S. Paulo. Em lugar de publicá-lo modestamente na
referida seção, o jornal, que já conhecia o autor, estampa-o com
destaque, em local separado, provocando uma atenção especial e
uma consequente reação do público. Lobato envia outro artigo,
agora intitulado “Urupês”, que merece igual acolhida do jornal.
Se “Velha Praga” é apenas a denúncia de um crime, em que no
final desfilam nomes caricatos de caboclos como Manoel Peroba,
Chico Marimbondo e Jeca Tatu, o artigo “Urupês” segue além: é
uma catilinária que desanca o romantismo e o ufanismo nacionais,
e arrasa o caboclo, que agora não tem outro nome além de Jeca
Tatu. Jeca passa a ser o símbolo da preguiça, da inutilidade, do
pessimismo, da incompetência e da inconsequência do nativo rural
brasileiro. Um personagem nascido não de um romance ou de
um conto, mas de um artigo.
O   p r ó p r i o   L o b a t o   e n d o s s o u   a   l e n d a ,   a m p l a m e n t e
desmistificada por Edgard Cavalheiro, seu principal biógrafo, de
que a acolhida do jornal e a reação do público foram decisivas
para a carreira do escritor. Na verdade não foram. Ao enviar os
dois artigos para O Estado de S. Paulo, embora ainda não tivesse
publicado um único livro, já era um escritor pronto, conhecido e
respeitado na pequena São Paulo da época. Com esses artigos ou
sem eles, teria dado seguimento à sua carreira de escritor e de
contista. Apenas, se já vinha publicando artigos em jornais e
contos em revistas, intensificou essas colaborações. De sorte que,
ao reunir os textos do primeiro livro, tinha em mãos um material
testado em letra de forma. Ia intitular esse livro, inicialmente,
Dez mortes trágicas; chegou a anunciá-lo desta forma na Revista
do Brasil, de sua propriedade; depois, Doze mortes trágicas. Mas,
como sempre, o senso de oportunidade prevaleceu. Incluiu, como
apêndice, o artigo provocador, modificou o final de um dos
contos, eliminando a tragédia e, seguindo a oportuna sugestão de
um amigo, cunhou para o volume o título vitorioso: Urupês. Um
golpe de publicidade, sem dúvida. Mas ali estava plantada, na
forquilha de um galho, a parasitazinha, que iria crescer e virar
mata-pau.
O outro mata-pau do contista, a literatura infantil, nasceu
fortíssimo em 1921, com a publicação d'A Menina do narizinho
arrebitado, ponto de partida para todos os demais livros do autor
no gênero. Vale aqui um tardio mas necessário reparo. Em longo
e comovido artigo publicado em A Tarde em 6 de julho de 1948,
dois dias após a morte do pai de Emília, Anísio Teixeira afirmou:
A   l i t e r a t u r a   i n f a n t i l   f o i   t o d a   e s c r i t a   c omo   ime n s o
divertimento e só no fim é que começou a surpreendê-lo e
absorvê-lo como a sua obra maior.
É uma afirmação que surpreende, partindo de Anísio Teixeira,
ami g o pe s soa l   e   g  r  ande   admi r  ador  de  Loba to.  Por q u e   é
e q u ivoc ada ,  ou ,  pior   a inda ,  pode   l e  va r  o  l e i tor   a  pens a r
equivocadamente a respeito de Lobato e a sua obra infantil. Não
há dúvida de que o escritor divertiu-se bastante com a feitura dos
seus livros para crianças, uma obra repassada de humor e muita
travessura, bem à feição lobatiana, como também não há dúvida
de que ele foi surpreendido com o seu extraordinário êxito, bem
além das suas mais otimistas expectativas, surpresa que ocorreu
não “no fim”, como afirma o grande educador baiano, mas ainda
no início, com o primeiro livro. A surpresa dos últimos anos deveuse à sua imensa popularidade em decorrência dessa literatura,
que o tornava o escritor mais conhecido e mais amado do país. O
equívoco maior, entretanto, é afirmar que aquilo foi um “imenso
divertimento” que só no fim passou a ser levado a sério. Lobato
nunca fez nada, principalmente de grande vulto, apenas para
divertir-se. O seu atilado sentido comercial não permitiria. A prova
é que, ao imprimir esse primeiro livro por sua própria conta, fez
logo uma ousadíssima edição de cinquenta mil exemplares,
imprimiu mais quinhentos para serem distribuídos gratuitamente
nas escolas a título de propaganda, e anunciou na própria capa 57
RE V I S T  A DA AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
do volume que era um “segundo livro de leitura para uso das
escolas primárias”, ou seja, vinculou a obra à escola para sugerir
e estimular a vendagem, antecipando-se a uma tendência dos
futuros editores do gênero no Brasil. Além da distribuição gratuita
dos exemplares, realizou também uma grande propaganda na
imprensa em torno do lançamento, tratando o assunto com
seriedade e tino empresariais. A rápida vendagem da enorme
edição e a entusiasmada aceitação da garotada, animou-o a seguir
encarando o empreendimento como um excelente negócio que,
como tal, devia ser levado a sério. Aliás, atirou-se sôfrego à
literatura infantil em alguns momentos de grande aperto
financeiro, como uma taboa de salvação, chegando a considerar
Emília, em carta a Godofredo Rangel, em 1943, a “encantadora
Rainha Mab do meu outono”. Não há, pois, nenhum sinal de
simples divertimento nessa atividade de Monteiro Lobato, pelo
contrário, foi uma ocupação que, desde o início, jamais o deixou,
seduzindo-o e absorvendo-o extraordinariamente.
Também do ponto de vista estritamente literário, essa atividade
não foi tratada em nenhum momento como divertimento, mas
como uma arte que ele procurou aprimorar em cada livro e cada
edição. Da primeira edição do primeiro livro, A Menina do narizinho
arrebitado, ao último, Os Doze trabalhos de Hércules, até a preparação
da obra completa, Lobato não parou de reescrever e aperfeiçoar
a sua literatura para crianças, absolutamente consciente da
importância do que estava fazendo. O resultado foi, como se sabe,
algo inédito, não apenas na literatura brasileira, mas também na
literatura infantil universal, com a construção de uma saga ainda
hoje não superada por nenhum autor.
 Mas, sobre a literatura infantil de Lobato não se pode falar de
forma tão aligeirada em texto tão curto. Exige estudo longo e
cuidadoso. Lembro apenas que foram tamanhos a força e o
encantamento dessa literatura voltada para as crianças, que a ela
ficou definitivamente associado o nome do autor. Ainda hoje,
para a maioria dos brasileiros, quando se pronuncia o nome de
Monteiro Lobato, é no pai de Emília, de Narizinho, de Pedrinho,
de dona Benta, de tia Nastácia, do Visconde de Sabugosa, de
Rabicó, enfim, no criador do Sítio do Picapau Amarelo que se
pensa, bem mais do que no contista.
Mas volto a Urupês. Em 1918, Lobato já não era mais um
fazendeiro. Morava na capital e era assumidamente o que se
poderia chamar de um homem de letras. De colaborador da Revista
do Brasil, na qual vinha publicando contos e críticas, passara a
proprietário, e todo o seu interesse voltava-se para livros e
literatura. Nesse mesmo ano, imprimiu Urupês por sua própria
conta nas oficinas d’O Estado de São Paulo e distribuiu o livro pelas
poucas livrarias da então provinciana cidade de São Paulo. A capital
paulista tinha apenas “meia dúzia de livrarias mal arrumadas e
desertas”. E essa não era uma realidade unicamente paulistana.
Em todo o país havia pouco mais de trinta livrarias. Entretanto,
existiam mais de mil agências postais espalhadas pelos estados
brasileiros. O Lobato comerciante, que sempre coexistiu com o
escritor, não teve dúvidas. Enviou a cada agente postal uma carta,
pedindo indicação de comerciantes de toda espécie que aceitassem
o livro em consignação – um sistema até então não praticado.
Quase todos responderam, e o país foi inundado por exemplares
de Urupês, que passaram a ser vendidos em lojas de ferragens,
farmácias, bazares, bancas de jornal, papelarias, enfim, onde
houvesse um ponto de venda disponível. O sucesso foi imediato.
A primeira edição, de mil exemplares, saída em agosto, esgotouse em poucos dias; a segunda, de dois mil exemplares, em um
mês; e a terceira edição, de quatro mil exemplares, foi posta na
rua já no final desse ano.
Ao lado do enorme sucesso, porém, acontecia algo que
desgostava o autor. O livro fazia barulho na imprensa, mas não
era falado e discutido por causa dos contos, e sim em função da
parasitazinha lá plantada em forma de artigo, o mata-pau Jeca
Tatu. O orgulho nacional –  que, àquele tempo, havia isso  –  ,
insuflado pelas imagens fantásticas dos índios de José de Alencar  
e Gonçalves Dias, sentiu-se ferido com o retrato da realidade
pintado por Lobato, e o artigo “Urupês” que, nas páginas d'O
Estado de São Paulo apenas provocara a reação de alguns leitores,
agora, posto em livro, tornava-se motivo de polêmica. Discutiase acirradamente o caboclo.
Estava o livro em sua terceira edição, permanecia a polêmica
na imprensa, quando Ruy Barbosa, do alto do seu imenso prestígio,
abriu uma conferência no Teatro Lírico, no Rio de Janeiro, com a
célebre pergunta:
Senhores:
Conheceis, porventura, o Jeca Tatu, dos Urupês, de
Monteiro Lobato, o admirável escritor paulista?
E por mais de meia dúzia de parágrafos, o tribuno baiano
seguiu avalizando e enaltecendo os conceitos de Lobato a respeito
do caboclo e da realidade rural brasileira. Foi uma surpresa e um
espanto. Ruy não costumava sair das suas alturas para citar, muito
menos para elogiar autores vivos, e abria uma surpreendente
exceção para Lobato e seu livro de estreia. A terceira edição de
Urupês esgotou-se rapidamente, e também a quarta, a quinta, a
sexta e a sétima. De toda parte vinham pedidos, o livro chegou
ao décimo quinto milheiro.
Era um acontecimento absolutamente inusitado nas letras
nacionais, sobretudo naquele começo de século em que, após a
morte de Machado de Assis, a literatura no Brasil, pelo menos na
prosa de ficção, atravessava uma fase de calmaria, quando nada
parecia acontecer de muito importante. Digo “nada parecia
acontecer”, porque, de fato, embora ainda sem grande penetração
popular, começavam a escrever e publicar um Lima Barreto, um
Simões Lopes Neto, um Valdomiro Silveira, sem esquecer os
baianos Xavier Marques, Afrânio Peixoto e Almachio Diniz, que
batalhavam  –  hoje se percebe que inutilmente, porque estão
ignorados ou esquecidos –, pela incorporação definitiva das suas
obras no seletivo repertório da literatura nacional. Mas eram
escassos os novos livros à disposição do público e os lançamentos
não empolgavam. Subitamente Lobato preenchia a lacuna e
tornava-se um escritor conhecido e admirado em todo o país.
Enquanto a imprensa preocupava-se com os defeitos e as
qualidades de Jeca Tatu, com a justiça ou a injustiça do retrato
pintado pelo autor de Urupês, enquanto uns insultavam e outros
defendiam o autor do famigerado personagem-símbolo do
caboclo brasileiro, o público lia com grande gosto os contos do
livro, e dava mostras de querer mais. Então, sem nenhuma dúvida
o contista impressionava, independentemente do artigo polêmico.
A árvore, embora sufocada pelo mata-pau, não estava morta.
É preciso lembrar que o êxito do contista Monteiro Lobato
não estava apenas no resultado de uma série de circunstâncias
favoráveis, todas elas muito bem aproveitadas pelo autor. Ali
estava, naquelas narrativas trágicas ou tragicômicas, um escritor
de excepcional talento, que aliava uma boa literatura ao gosto e à
necessidade consumidora do público. Apesar de Urupês ser o
primeiro livro, os contos nele apresentados não eram de estreante.
Ao contrário de Machado de Assis, que se foi aprimorando no
gênero livro a livro, partindo da inexperiência de Contos fluminenses,
em 1870, alcançando a maestria de Papéis avulsos, em 1882, e, daí
por diante, seguindo em altíssimo nível até Relíquias de casa velha,
em 1906, Lobato aprimorou-se publicando em jornais e revistas.
Escreveu e reescreveu, fez, refez, modificou, leu muito, discutiu
exaustivamente o seu trabalho, sobretudo em cartas com
Godofredo Rangel e, quando se apresentou em livro, era um
contista maduro e passado a limpo. Seu volume de estréia, embora
não traga alguns de seus melhores contos, produzidos depois,
como “O Jardineiro Timóteo”, “Negrinha” e “O Colocador de
Pronomes”, é, em conjunto, o seu melhor livro de contos. Só um
escritor com o total domínio da linguagem e da técnica, com o
pleno sentido da relação espaço-tempo na ficção de curto fôlego,
com a segurança absoluta do seu objetivo dentro do gênero,  
realizaria com êxito contos como “Os Faroleiros”, “O Engraçado
Arrependido”, “A Colcha de Retalhos”, “A Vingança da Peroba”,
“O Mata-Pau”, “Bocatorta”, ou “O Comprador de Fazendas”.
Contos que beiram ora o dramalhão, ora a pieguice, ora a simples
anedota, ora a tragédia desnecessária, mas que, na sua mão segura
de narrador, no seu firme conhecimento da arte literária, nos
seus indiscutíveis recursos de frase e de efeito, tornam-se contos
pr imorosos,   e xempl a r e s  no  g êne ro  e  na  moda l idade   q u e
representam.
Essa modalidade estava definida desde o início. Numa carta
que escreveu de Areias, em 1909, a Godofredo Rangel, deixava
muito clara a sua concepção do gênero, bem como o seu objetivo
como contista. Diz Lobato:
Sou partidário do conto, que é como o soneto na poesia.
Mas quero contos como os de Maupassant ou Kipling, contos
concentrados em que haja drama ou que deixem entrever
dramas. Contos com perspectivas. Contos que façam o leitor
interromper a leitura e olhar para uma mosca invisível, com
olhos grandes, parados. Contos-estopins, deflagradores das
coisas, das idéias, das imagens, dos desejos, de tudo quanto
exista informe e sem expressão dentro do leitor. E conto que
ele possa resumir e contar a um amigo – e que interesse a esse
amigo.
Uma teoria que se afina às maravilhas com aquela outra famosa
de Edgar Allan Poe, em que o conto, como a anedota, deve ter
um só efeito, e esse efeito é preconcebido. Ou seja: o conto
constitui uma profusão de cenas e ações que preparam um efeito
em geral posto no desfecho. A história assim armada faz com
que a cena final determine um efeito regressivo que ilumina todo
o corpo da composição, dando-lhe significado. Exatamente o que
pensava Lobato, que via o fecho do conto como o fecho do soneto,
a chave de ouro, portanto, o ponto alto da composição.
A admiração de Monteiro Lobato por Maupassant e por
Kipling era confessa, particularmente por Maupassant. Defendia
abertamente o conto linear, de princípio, meio e fim, o conto que
sempre conta uma história, e opunha-se terminantemente ao
conto que se convencionou chamar “de atmosfera”. Essa postura,
tão radical, teorizada ao jeito lobatiano, de forma agressiva e
polêmica, quase sempre divertida  – e, como bem demonstrou
Jorge Amado, que terrível arma é o riso! – , fez com que Lobato,
apesar de ser considerado um renovador da prosa de ficção
brasileira, ignorasse os avanços técnicos do conto, não tomasse
c o n h e c ime n t o   d o s   i l imi t a d o s   r e c u r s o s   d e   amp l i a ç ã o   o u
desestruturação de enredo, e limitasse ferrenhamente as suas
páginas à modalidade da sua preferência. Isso fez –  e ainda faz –
a sua rejeição pelos adeptos do conto moderno. Mas não o afastou
à época do grande público, talvez pelo contrário. Dando razão ao
explosivo autor paulista, o grande público sempre preferiu o conto
clássico ao moderno, e não é segredo que as inovações do gênero,
que tanto o enriqueceram do ponto de vista da arte literária,
a brindo- lhe novas  perspectivas  de   criação,  a partaram-no
enormemente desse público mais amplo, que voltou a sua atenção
para o romance, numa sábia advertência de que a arte literária
não deve ser excludente, Tchekhov não deve excluir Maupassant.
Pelo contrário: na diversidade de opções, encontra-se uma riqueza
que não pode ser desprezada.
Também não é verdade que o contista Monteiro Lobato tenha
sido grandemente prejudicado pelo movimento modernista de
22. Apesar de não lhe terem perdoado a famosa crítica a Anita
Malfatti, os próprios líderes desse movimento, em particular
Oswald de Andrade, reconheciam no autor de Urupês o seu caráter
pioneiro e renovador, tanto na linguagem, como nos temas e no
ambiente genuinamente brasileiros, não tendo sido poucas as vezes
em que foi considerado um precursor do movimento. Os livros
de conto de Lobato –  mesmo o mais fraco, Cidades mortas, lançado
às pressas no mercado, reunindo velhas páginas do início da sua
experiência de contista ao lado de contos mais recentes, apenas
para aproveitar o êxito de Urupês  ultrapassaram incólumes toda a
entusiasmada fase detonada pela revolucionária semana – paulista,
e chegaram pelo menos aos anos cinquenta do século passado
com edições renovadas, sem falar da coleção completa, editada
em capa dura – e quase obrigatória nas estantes dos intelectuais
do país. Então, subitamente, por longos anos, sua obra de contista
sumiu das prateleiras das livrarias, para só retornar recentemente.
O que terá ocorrido, afora as meras questões editoriais, os
interesses ou o desinteresse das grandes editoras, sobretudo da
editora responsável por sua obra?
Cabe aqui uma reflexão sobre um aspecto que, evidentemente,
não deve ter sido a causa do desaparecimento comercial desses
livros por tão longo tempo, mas que pode ter contribuído de
alguma forma para o gradual desinteresse que os envolveu. Se o
tipo de conto que escrevia não afastou Monteiro Lobato do grande
público, talvez até, pelo contrário, tenha sido um fator importante
para a sua popularidade como contista, o mesmo não pode ser
dito em relação à linguagem utilizada na sua escrita, uma linguagem
nitidamente inspirada em Camilo, outra de suas grandes e
confessadas admirações. Paradoxalmente, nesse ponto, pareceme que Lobato percorreu o caminho inverso, aquele que, mais
cedo ou mais tarde, afasta o público mais amplo. Sua linguagem
literária é um amálgama ríspido de termos eruditos, arcaísmos,
j a rg õ e s,   p a l av ra s   t é c n i c a s,   d i z  e r  e s   c o l o q u i a i s   p o p u l a re  s,
regionalismos, onomatopeias e até de vocábulos inventados ao
sabor da escrita – os dicionários, hoje, registram cerca de setenta
desses vocábulos. Nela só não se encontram palavras chulas e de
baixo calão, que não eram admitidas na literatura da época. O
mais, há. É como se a língua fosse um ilimitado território sem
dono e sem regras, que servisse de todos os modos e maneiras na
construção peculiaríssima do seu texto, no qual, espelhando a
personalidade do autor, não faltam irreverência e ironia, ambas
tantas vezes transmudadas em humor, mesmo em narrações de
tragédia. Enfim, uma colcha de retalhos de impressionante e
perigoso efeito, capaz de seduzir ou afastar o leitor –  a depender
do gosto de cada um –  mas, muito provavelmente, a apenas afastar
o grande público, sobretudo o grande público de hoje, que terá
inclusive em muitos trechos dificuldade para entendê-lo. Lobato
era um homem que lia dicionário para distrair-se e, por outro
lado, pregava alto e bom som que se devia escrever como se fala,
que a verdadeira língua é a do povo, que não se cansa de reinventá-
la; nessa dubiedade de atitude e de pensamento, talvez resida a
explicação para o seu estilo desigual e costurado. Naturalmente,
com um instrumento de trabalho tão inusitado, seu texto já nascia
com cara e jeito inconfundíveis, cara e jeito de Lobato. Mas
também, por sua dificuldade de compreensão, tornava-se mais
um mata-pau do contista.
A história da literatura brasileira –  contada aos retalhos de
épocas e regiões  –  , contaminada pelas idiossincrasias dos
historiadores e analistas, não tem dado a devida importância ao
fato de ter sido Lobato o primeiro grande escritor brasileiro a se
apresentar, na literatura adulta, basicamente como contista. Antes
dele, Machado de Assis, colocando-se artisticamente entre o conto
clássico e o moderno, soube elevar o gênero às alturas mais
exigentes da qualidade universal, uma qualidade que só tem sido
eng  r ande c ida   com o pa s s a r  do  t empo,   a  ponto de   e s t a r
conseguindo, aos poucos e recentemente, a consagração de um
reconhecimento estrangeiro que vem se ampliando a partir de
estudiosos da nossa literatura em universidades de diversos países,
em particular da Europa. Porém Machado, em seu tempo, não se
apresentou basicamente como contista. Verdade que seus contos
sempre foram muito apreciados pelo público e, por sua facilidade
de publicação em jornais e revistas, contribuíram decisivamente
para divulgá-lo. Mas a sua obra, vasta e polígrafa, com incursões
significativas em todos os gêneros, alicerçava-se sobretudo no
romance para estabelecê-lo acadêmica e comercialmente. Os
emblemas da sua glória, enquanto vivo, foram de início a crítica 65
RE V I S T  A DA AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
literária e, posteriormente, os romances da segunda fase, Dom
Casmurro, Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Esaú e
Jacó e Memorial de Aires. O romancista eclipsou o crítico ainda em
vida, e o romance fez a sua nomeada por mais algum tempo após
a   s u a  mor  te.  Bem  ant e s  do  re conhe c imento  unânime  da
excepcional qualidade dos seus contos, discutia-se acaloradamente
se Capitu traiu ou não o desventurado Bentinho. Hoje, não há
dúvida, o contista Machado de Assis é, com muita justiça, tão
valorizado, estudado e lido quanto o romancista, havendo até
quem afirme ter sido ele bem maior como contista. Também
Afonso Arinos, o festejado autor de Pelo sertão, experimentou o
romance, a novela e o teatro nas mesmas proporções, já que, em
vida, publicou unicamente um livro de cada um desses gêneros.
Escreveu apenas nove contos, os cinco constantes de Pelo sertão, e
os quatro que formam o livro póstumo Histórias e paisagens. Coelho
Neto foi tão romancista quanto contista, ainda mais romancista.
Lima Barreto, embora também contista, foi bem mais romancista.
Lobato, desde o início da sua atividade literária até a derradeira
página de ficção para adultos, direcionou-se quase que unicamente
para o conto, propagando e sedimentando o gênero em nossas
letras, contribuindo decisivamente para a sua valorização como
arte literária no Brasil. Digo quase e não unicamente, porque há
também uma lamentável experiência dele com o romance, se é
que se pode chamar dessa forma a “pura obra da imaginação
fantasista”, para usar suas próprias palavras, que é o extravagante
O Choque das raças ou, como passou a ser chamado posteriormente,
O Presidente negro. Sem o maravilhoso pó de pirlimpimpim que levou
leitores de todas as idades, com absoluto encantamento, à Grécia
antiga, ao céu, ao País da Gramática, ao País das Fábulas e ao Reino
das Águas Claras, escreve, em 1926, em apenas três semanas, para
o rodapé do jornal A Manhã, um romance –  ou novela? ou conto
espichado? ou simples fantasia? –  de cunho futurista, no espírito
profético dos Verne, Wells, Huxley e Orwell, porém sem a
clarividência, a amplitude, a profundidade e o brilhantismo do66
RE V I S TA DA  AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
melhor desses autores, onde ele, antecipando as ideias racistas e
criminosas de Hitler e do nazismo, que tantas consequências
funestas iriam causar à humanidade já na década seguinte,
absurdamente defende a eugenia como uma das principais
soluções para os problemas da espécie humana, em particular do
povo norte-americano que é considerado, na obra, como o maior
povo do mundo. Como se não bastasse, apresenta uma ideia
ofensiva sobre o caráter da mulher, além de uma visão estreita e
injusta sobre o papel da mulher na sociedade, veiculando, com a
maior naturalidade, sobre o negro, a mulher, o deficiente físico e
o deficiente mental, conceitos e soluções hoje universalmente
considerados como preconceituosos, injustos, cruéis, perigosos
e até criminosos. É de estarrecer. Dir-se-á que não passa de uma
brincadeira de Lobato, tão dado a provocações de todo tipo. Uma
brincadeira de mau gosto. Porém, surpreendentemente, o tom
não é irônico, muito menos de brincadeira. Um livro estranho –
e menor –, sem dúvida, que apenas tem o mérito de ser bem
escrito, com uma boa técnica, uma narrativa fluente, uma
linguagem despida dos artificialismos e dos arcaísmos dos contos
de Urupês, capaz de prender com interesse o leitor da primeira à
última página, mas cujo conteúdo não faz jus ao talento e ao
nome do escritor. Sobretudo não faz jus ao largo e generoso
espírito que foi Monteiro Lobato. De qualquer forma, O Presidente
negro não lhe confere o título de romancista, nem ele a isso aspirou
ao escrevê-lo e publicá-lo.
Lobato é, na ficção de adultos, apenas um contista. Seus
principais contos são longos, na tradição dos contos franceses,
que se inicia com Prosper Mèrimée, consagra-se universalmente
com Guy de Maupassant e tem em Jean Paul Sartre um de seus
cultores mais recentes. Mas não chegam à novela. Sua acanhada
tentativa de novela, “Os Negros”, inserida em Negrinha, confundese com os demais contos e passa por um deles. Ainda quando
trabalha enredos que se desdobram, pondo em risco a estrutura
fechada, ou quando essas narrativas se passam em tempo ficcional 67
RE V I S T  A DA AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
extenso, como é o caso do magistral “O Colocador de Pronomes”,
da última fase, em que a história do personagem é contada desde
antes do nascimento até a sua morte, Lobato não passa do conto.
Como se o seu espírito inquieto quisesse sempre resolver a
narrativa de forma rápida e compacta.
Voltando ao tema dos mata-paus do contista, vale lembrar
que Lobato, o homem impaciente, irrequieto, empreendedor,
tornou-se também, ele próprio, um mata-pau do contista. Ardia
intensamente cada vez que acendia e logo apagava. Tendo
publicado Urupês em 1918, praticamente encerrou sua carreira de
contista em 1923, com a publicação de O Macaco que se fez homem,
livro cujos contos, na arrumação definitiva das suas obras
completas, diluem-se entre Cidades mortas e Negrinha. Depois disso,
todo voltado para os seus sucessivos projetos, como editora, ferro,
petróleo e, em particular, a literatura infantil, raramente escreve
algum conto, sendo praticamente o único realmente bom após
essa fase, o célebre "A Facada imortal", de 1942, que alguns críticos
consideram seu melhor conto. Não compartilho dessa opinião,
embora o reconheça excelente.
De sua obra completa em capa dura para adultos, formada
por quinze alentados volumes, apenas os três primeiros são de
contos: Urupês, Cidades mortas e Negrinha. Nos demais, há ensaios,
artigos, críticas, crônicas, entrevistas, prefácios e cartas, além do
abominável O Presidente negro. Nesses três volumes iniciais há
algumas páginas que, embora agradáveis de serem lidas, não
correspondem à qualidade e à fama do contista. São páginas nas
quais prevalecem o pictórico, o panfletário e o caricatural sobre
os elementos ficcionais. Há outras que apenas se valem do curioso
do episódio  – exatamente como uma anedota, como o divertido
“De Como Quebrei a Cabeça à Mulher do Melo”, que lhe valeu
um curioso processo na justiça. Mas, por outro lado, nesses três
volumes, pode ser encontrada com facilidade uma quinzena de
contos aos quais não seria exagero atribuir a dimensão das obrasprimas. Contos nos quais se sente o cuidadoso trabalho de68
RE V I S TA DA  AC A D E M I A D E LE T R A S DA  BA H I A,   n .   4 9 ,   2 0 1 0
elaboração que caracterizam as grandes obras literárias, onde não
há nada em excesso ou faltando, e cada frase, cada palavra é
fundamental para o conjunto do texto. Contos, finalmente, cuja
leitura transmite ao leitor a sensação de plenitude. Seriam eles, na
minha opinião: “Os Faroleiros”, “O Engraçado Arrependido”,
“A Colcha de Retalhos”, “A Vingança da Peroba”, “O Mata-Pau”,
“Bocatorta”, “O Comprador de Fazendas”, “O Estigma”, “Júri
n a   Ro ç a ” ,   “O  F í g a d o   I n d i s c re t o ” ,   “Ne g  r i n h a ” ,  “ B u g i o
Moq u e ado” ,   “O  Ja  rdine i r o  Timót eo” ,   “O Coloc ador  de
Pronomes” e “A Facada Imortal”. Fora da literatura infantil –
q u e   t em  d e   s e r   a n a l i s a d a   à   p a r  t e   –   ,   é   d i f í c i l   p r  e v e r   o
comportamento comercial de uma nova edição da obra completa
de Lobato nos tempos de hoje. O início do século XXI trouxe-a
de volta às prateleiras das livrarias, e o resultado desse grande
empreendimento editorial certamente determinará o destino
desses livros nas próximas décadas. De qualquer forma, creio
que as quinze narrativas aqui apontadas poderão formar um
volume de seus melhores contos com absoluta garantia de êxito
comercial e acolhimento acadêmico –  ainda hoje e sempre. Porque
a árvore dos contos de Monteiro Lobato é forte o bastante para
resistir e sobreviver aos mata-paus que ele próprio e outros
plantaram nas forquilhas dos seus galhos.
__________
Aramis Ribeiro Costa é médico e administrador hospitalar, graduado em
Letras, poeta, contista e romancista, é autor de 16 livros.





Coletânea de contos e crônicas em que o pré-modernista Monteiro Lobato inaugura um tipo de regionalismo crítico e mais realista do que o pitoresco e fantasioso praticado anteriormente, no Romantismo. A crônica que dá título ao livro, Urupês, traz uma visão depreciativa do caboclo brasileiro, o “fazedor de desertos”, estereótipo contrario à visão romântica dos autores modernistas.

Narrador
Apesar de Monteiro Lobato representar a transição entre o Realismo/Naturalismo e as correntes do Modernismo, o autor se indispôs profundamente com os escritores modernistas da primeira geração, que responderam a Urupês com a obra Juca Mulato, de Menotti del Picchia. Entre os traços típicos de Monteiro Lobato, estão o tom moralizante e didático que também aparece nas obras infantis do autor, além de sua obsessão pela linguagem e gramática
Varia entre primeira e terceira pessoa. Na explicação do mestre em Literatura Enio José Ditterich, o típico narrador de Monteiro Lobato é aquele “contador de causos”, um personagem que ouviu a história que está reproduzindo.
Personagens
Monteiro Lobato apresenta o homem como produto do meio, e utiliza traços do expressionismo alemão para compor muitos dos personagens de Urupês, incluindo o caboclo Jeca Tatu da crônica-título do livro. “Dentro da estética expressionista, o mais evidente é o Bocatorta, criatura grotesca apresentada em um dos contos do livro, semelhante ao Corcunda de Notre Dame”, compara Enio Ditterich. Tipos oportunistas, como o malandro vigarista, estão presentes em Urupês, como no conto O comprador de Fazendas. Ênio sugere atenção redobrada na leitura da crônica que nomeia o livro, mas avisa que é preciso compreender muito bem o contexto histórico-social brasileiro do período a que pertenceu Monteiro Lobato, pois o autor está intimamente relacionado a ele.
Tempo
Está vinculado ao período do autor, portanto retrata o Brasil das primeiras décadas do século XX. “Costumo dizer que Monteiro Lobato é o homem que inventou a máquina do tempo, porque suas descrições minuciosas de um Brasil primitivo, arborizado e provinciano fazem o leitor ser transportado para o período em que a história é narrada”, revela Enio Ditterich.
Espaço
Em Urupês, o espaço é bem definido, enfocando a paisagem do interior do estado de São Paulo, onde nasceu o autor. Lobato faz uma descrição detalhada da geografia, fauna e flora da região, o que pode ser enfadonho especialmente para o leitor urbano. “Por conta da destruição do meio ambiente, muitas espécies descritas pelo autor em Urupês já não existem mais e, portanto, são desconhecidas do leitor mais jovem”, avalia. Nesse sentido, a obra está presa a seu tempo e espaço particulares. Mas, se o leitor tem conhecimento e curiosidade, irá descortinar um novo mundo”, afirma. Para Enio Ditterich, Monteiro Lobato tinha uma postura altamente ecológica bem antes deste termo estar na moda.

Fonte: Enio José Ditterich, mestre em Literatura Brasileira pela UFPR.