quinta-feira, 2 de junho de 2011

Personagens



A PERSONAGEM NA NARRATIVA
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Estudos Literários

O termo personagem vem do Latim, persona(m), cujo significado é, máscara de ator de teatro. Em português, pode ser o personagem ou a personagem. Este último, talvez por causa da origem do termo em latim [persona]. No masculino, há quem diga ser devido à ausência de mulheres no teatro antigo; todos os personagens eram masculinos.
As personagens são arquitetadas pela fantasia do prosador e atuam no interior da narrativa literária; têm por função simular pessoas, comportamentos e sentimentos reais. Por isso, são construídas à imagem e semelhança dos seres humanos. Se bem construídas, nelas, teremos a impressão de pessoas vivendo situações e dilemas semelhantes aos nossos.
A personagem só existe na história se dela participa, ou seja, se age ou fala. Se uma determinada personagem é apenas mencionada na história por outras personagens, mas não participa direta ou indiretamente das ações, não será considerada uma personagem.
1. FUNÇÕES DAS PERSONAGENS
Quanto à função que desempenham na narrativa, as personagens podem ser:
a) Protagonista (do Grego, protagonistés) - É a personagem principal em torno do qual se constrói toda a trama. O protagonista pode ser caracterizado como herói ou anti-herói. Em nossa literatura é muito frequente o anti-herói como protagonista. Macunaíma é um exemplo do herói sem nenhum caráter, ou seja, o anti-herói.
b) Antagonista (do Grego, antagonistés) - é a personagem que cria o clima de tensão, opondo-se ao protagonista. Ao construir uma narrativa, nunca despreze o antagonista; o sucesso de uma narrativa está diretamente ligado à perfeita caracterização desse personagem. Que digam as novelas de televisão!
• Protagonista e antagonista são caracterizados, na linguagem popular como "mocinho e bandido". Em outros termos, herói e vilão.
c) Personagens Secundárias e Figurantes - personagens sem grande importância na narrativa. As secundárias participam na ação, no entanto, não desempenham papéis decisivos. Os figurantes não têm qualquer participação no desenrolar da ação, cabendo-lhe apenas ajudar a compor um ambiente ou espaço social.
2. CARACTERIZAÇÃO DAS PERSONAGENS
a) Indivíduos - são personagens que possuem características pessoais marcantes, que acentuam a sua individualidade. Em Dom Casmurro (Machado de Assis), Capitu é uma personagem indivíduo. Observe:
“Na verdade, Capitu ia crescendo às carreias, as formas arredondavam-se e avigoravam-se com grande intensidade; moralmente a mesma coisa. Era mulher por dentro e por fora, mulher à esquerda e à direita, mulher por todos os lados, e desde os pés a cabeça. (...); os olhos pareciam ter outra reflexão, e a boca outro império.”
b) Caricaturais - são personagens cujos traços de personalidade ou padrões de comportamento são propositalmente acentuados (às vezes beirando o ridículo) em função do cômico ou da sátira. São personagens muito comuns, principalmente, em novelas de televisão. Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um Sargento da Milícia, nos descreve uma personagem caricatural:
“Era a comadre uma mulher gorda, bonachona, ingênua ou tola até certo ponto, [...] todos a conheciam por muito beata e pela mais desabrida papa-missas da cidade. Era a folinha mais exata de todas as festas religiosas que aqui se faziam; sabia de cor os dias em que se dizia a missa em tal ou tal igreja, como a hora e até o nome do vigário; era pontual à ladainha, ao terço, à novena; não lhe escapava via-sacra, procissão, nem sermão."
c) Típica ou Tipos – são personagens identificados pela profissão, pelo comportamento, pela classe social, enfim, por um traço distintivo comum a todos os indivíduos duma categoria. Personagem Tipo seria o jornalista, o estudante, a dona-de-casa, a solteirona etc. É o caso, por exemplo, da maioria das personagens de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, como o Barbeiro, a Parteira, o Major, os Ciganos, etc. O mesmo vale para a maioria dos personagens de Gil Vicente.
3. EVOLUÇÃO DAS PERSONAGENS
Quanto à evolução, dentro da narrativa, as personagens podem ser:
a) Planas ou Estacionárias – são personagens construídas em redor de uma única qualidade ou defeito. Por isso, não tem profundidade psicológica, e não alteram seu comportamento no decorrer da narrativa. São personagens estáticas, definidas em poucas palavras, por um traço, por um elemento característico básico, que as acompanha durante toda a história. É o irônico que está sempre fazendo ironias, o chato que só sabe ser chato, ou seja, são personagens que não apresentam contradições: são sempre boas ou más; corajosas ou mentirosas; malandras ou trabalhadoras. Como exemplo, podemos citar Iracema, do romance Iracema, de José de Alencar.
• As personagens planas, normalmente, são caracterizadas como tipo ou caricatural.
b) Redondas, Esféricas ou Evolutivas – são personagens complexas; definidas por vários traços diferentes, cheias de contradições; apresentam comportamentos imprevisíveis, enigmáticos, que vão sendo definidos no decorrer da narrativa, evoluindo e, muitas vezes, surpreendendo o leitor. Ora são covardes, ora corajosas; ora possuem virtudes, ora defeitos; enfim, expressam a verdadeira natureza humana. A personagem-protagonista de João do Santo Cristo do texto Faroeste Caboclo, é evolutiva, pois é uma mistura de santo e bandido. ®Sérgio.
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Algumas informações foram extraídas e adaptadas ao texto de: Massaud Moisés, A Criação Literária. E de: José de Nicola, Ernani Terra e Floriana Toscano, Literatura e Produção de Textos.

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